Testemunhos para a Igreja, 3

Capítulo 9

A obra em Battle Creek

Numa visão que tive em Bordoville, Vermont, em 10 de Dezembro de 1871, foi-me mostrado que a posição de meu marido tem sido bem difícil. Uma pressão de responsabilidade e trabalho tem pesado sobre ele. Seus irmãos no ministério não têm tido de levar estas responsabilidades, e não têm apreciado seus esforços. A pressão constante sobre ele o tem sobrecarregado mental e fisicamente. Foi-me mostrado que sua relação com o povo de Deus era semelhante em alguns respeitos à de Moisés com Israel. Havia murmuradores contra Moisés, quando em circunstâncias adversas, e têm havido murmuradores contra ele.

Não tem havido ninguém nas fileiras dos guardadores do sábado que faria o que meu marido tem feito. Ele tem devotado seu interesse quase inteiramente à edificação da causa de Deus, sem consideração por seus interesses pessoais e com o sacrifício do convívio social com sua família. Em sua dedicação à causa, ele tem freqüentemente posto em perigo a saúde e a vida. Tem sido tão pressionado pela responsabilidade desta obra que não tem tido tempo adequado para estudo, meditação e oração. Deus não exigiu que ele estivesse nessa situação, até para o interesse e o progresso da obra de publicação em Battle Creek. Há outros ramos da obra, outros interesses da causa, que têm sido negligenciados por sua dedicação a este. Deus nos tem dado a ambos um testemunho que alcançará os corações. Ele abriu diante de mim muitos condutos de luz, não só para meu benefício, mas para o benefício de Seu povo em geral. Ele também tem dado a meu marido grande luz sobre tópicos bíblicos, não para ele só, mas para outros. Vi que estas coisas devem ser escritas e anunciadas, e que nova luz continuaria a brilhar sobre a Palavra.

Vi que poderíamos realizar dez vezes mais para edificar a obra trabalhando em meio do povo de Deus, levando um testemunho diverso para satisfazer as necessidades dela em diferentes lugares e sob circunstâncias diversas, do que poderíamos fazer ficando em Battle Creek. Nossos dons são necessários no mesmo campo escrevendo e falando. Enquanto meu marido está sobrecarregado, como tem estado, com um acúmulo de cuidados e questões financeiras, sua mente não pode ser tão produtiva na palavra como poderia ser. E ele está sujeito a ser assaltado pelo inimigo; porque está em uma posição na qual há pressão constante, e homens e mulheres serão tentados, como o foram os israelitas, a queixar-se e a murmurar contra aquele que ocupa a posição de maior responsabilidade na causa e obra de Deus.

Enquanto sob o peso dessas responsabilidades que ninguém mais se aventuraria a assumir, meu marido tem por vezes, sob a pressão da preocupação, falado sem a devida consideração e com aparente severidade. Ele tem por vezes censurado pessoas no Escritório porque não eram cuidadosas. E quando erros desnecessários ocorreram, ele pensou que indignação pela causa de Deus era justificável em seu caso. Esta conduta não tem sido sempre acompanhada pelos melhores resultados. Tem por vezes resultado em negligência por parte das pessoas reprovadas para fazerem as coisas que deviam ter feito; porque receavam que não as fariam corretamente, e seriam então culpadas por isso. Justamente como tem acontecido, a responsabilidade tem caído mais pesadamente sobre meu marido.

Teria sido melhor ele estar ausente do Escritório mais do que tem estado, e deixar que outros fizessem o trabalho. E se, depois de uma tentativa paciente e justa, eles se demonstrassem infiéis, ou não capacitados para o trabalho, deviam ser despedidos, e deixados a empenhar-se em ocupações onde seus erros e tolices afetassem seus interesses pessoais e não a causa de Deus.

Havia indivíduos que estavam à frente dos negócios da Sociedade de Publicações que eram, para dizer o mínimo, infiéis. E se as pessoas especialmente associadas a eles como depositários tivessem estado com seus olhos abertos e suas sensibilidades não paralisadas, esses homens teriam sido separados da obra há muito tempo.

Quando meu marido se recuperou de sua longa e grave enfermidade, ele tomou conta do trabalho confuso e embaraçado deixado por homens infiéis. Trabalhou com toda a determinação e força física e mental que possuía para erguer a obra e redimi-la da situação vergonhosa à qual havia sido levada por aqueles que tinham elevados interesses pessoais e não sentiram que era sagrada a obra na qual estavam empenhados. A mão de Deus se estendeu em julgamento sobre estes homens infiéis. Sua conduta e o resultado deviam demonstrar-se uma advertência a outros para não agirem como eles agiram.

A experiência de meu marido durante o período de sua enfermidade foi desastrosa para ele. Ele havia trabalhado nesta causa com interesse e dedicação como ninguém o fizera. Tinha arriscado e tomado posições avançadas como a Providência havia guiado, indiferente a censura ou louvor. Tinha permanecido de pé sozinho e batalhado através de sofrimentos físicos e mentais, não levando em conta os próprios interesses, enquanto aqueles que Deus tinha designado para ficarem a seu lado o abandonaram quando ele mais precisava de ajuda. Não somente foi deixado a batalhar e lutar sem auxílio e simpatia deles, mas freqüentemente teve de enfrentar oposição e murmurações -- murmurações contra alguém que estava fazendo dez vezes mais do que qualquer deles para edificar a causa de Deus. Todas essas coisas têm tido sua influência; elas moldaram a mente que fora outrora isenta de suspeita, confiante e crédula, e fez com que perdesse a confiança em seus irmãos. Aqueles que contribuíram para isso serão, em grande parte, responsáveis pelo resultado. Deus os teria guiado se Lhe tivessem servido de modo fervoroso e devotado.

Foi-me mostrado que meu marido tinha dado a seus irmãos evidências inconfundíveis de seu interesse na obra de Deus e de sua dedicação à mesma. Depois de ter gasto anos de sua vida em privação e labuta constante para estabelecer os interesses da obra de publicação sobre uma base segura, deu ao povo de Deus aquilo que era seu e que poderia muito bem ter guardado, e recebido os lucros se tivesse preferido fazê-lo. Por este ato mostrou ao povo que não estava procurando vantagem própria, mas sim promover a causa de Deus.

Quando a doença acometeu meu marido, muitos agiram da mesma maneira insensível para com ele como os fariseus agiram para com os desafortunados e oprimidos. Os fariseus diriam aos sofredores que sua aflição fora o resultado de seus pecados, e que os juízos de Deus lhes sobrevieram. Assim agindo aumentavam seu fardo de sofrimento. Quando meu marido sucumbiu sob seu fardo de responsabilidades, houve aqueles que foram impiedosos.

Quando começou a recuperar-se, de modo que em sua fraqueza e pobreza passou a fazer algum trabalho, pediu àqueles que estavam à frente dos negócios no Escritório um desconto de quarenta por cento sobre uma encomenda de cem dólares de livros. Ele estava disposto a pagar sessenta dólares pelos livros que sabia custarem à Associação apenas cinqüenta dólares. Ele pediu esse desconto especial em vista de seus trabalhos e sacrifícios do passado a favor do departamento de publicações, mas lhe foi negado este pequeno favor. Disseram-lhe friamente que só podiam dar-lhe vinte e cinco por cento de desconto. Meu marido considerou isso muita ingratidão, mas procurou suportá-la de um modo cristão. Deus no Céu anotou essa decisão injusta, e desde então tomou o caso nas próprias mãos, e devolveu as bênçãos negadas, como fez ao fiel Jó. Desde aquela decisão desumana, Ele tem estado a trabalhar a favor de Seu servo, e lhe concedeu mais saúde física, clareza e força mentais e liberdade de espírito do que antes. Desde então meu marido tem tido o prazer de distribuir gratuitamente com as próprias mãos milhares de dólares de nossas publicações. Deus não abandona totalmente e nem esquece para sempre os que têm sido fiéis, mesmo se algumas vezes eles cometem erros.

Meu marido tem tido zelo por Deus e pela verdade, e por vezes este zelo o tem levado a trabalhar demais com prejuízo do vigor físico e mental. Mas o Senhor não considerou isso pecado tão grande como a negligência e infidelidade de Seus servos em reprovar erros. Aqueles que louvam os infiéis e lisonjeiam os não consagrados são participantes em seu pecado de negligência e infidelidade.

Deus escolheu meu marido e deu-lhe qualificações especiais, habilidade natural e experiência para liderar Seu povo no avanço da obra. Mas tem havido murmuradores entre os adventistas guardadores do sábado como houve em meio do antigo Israel, e estas pessoas invejosas e desconfiadas, por suas sugestões e insinuações, têm dado aos inimigos de nossa fé ocasião de desconfiar da honestidade de meu marido. Estes invejosos, da mesma fé, têm apresentado as coisas diante de incrédulos numa falsa perspectiva, e as impressões feitas impedem que muitos abracem a verdade. Consideram meu marido como um homem ardiloso, egoísta e avarento, e têm medo dele e da verdade que sustentamos como um povo.

Quando o apetite do antigo Israel foi restringido, ou quando alguma exigência estrita lhes foi imposta, culparam Moisés de ser arbitrário, querer governá-los e ser um príncipe soberano sobre eles, quando era apenas um instrumento na mão de Deus para levar Seu povo a uma posição de submissão e obediência à voz de Deus.

O Israel moderno tem murmurado e ficado com inveja de meu marido porque ele tem pleiteado pela causa de Deus. Tem encorajado liberalidade, tem reprovado aqueles que amam o mundo e tem censurado o egoísmo. Tem pleiteado por doações para a causa de Deus e, para encorajar a liberalidade em seus irmãos, tem liderado com doações liberais ele mesmo. Mas mesmo isso tem sido interpretado por muitos murmuradores e invejosos como se ele desejas-se beneficiar-se pessoalmente dos recursos de seus irmãos e tivesse se enriquecido à custa da causa de Deus. O fato é que Deus confiou recursos a suas mãos para erguê-lo acima de penúria, de modo a não ficar dependente da misericórdia de um povo volúvel, murmurador e invejoso. Porque não temos buscado egoistamente nosso próprio interesse, mas temos cuidado da viúva e do órfão, Deus tem na Sua providência trabalhado em nosso favor e nos abençoado com prosperidade e abundância.

Moisés sacrificou um reino em perspectiva, uma vida de honra e luxo mundanos em cortes reais, "escolhendo, antes, ser maltratado com o povo de Deus do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores riquezas, o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito". Hebreus 11:25, 26. Se tivéssemos escolhido uma vida de lazer e livre de trabalho e cuidado, poderíamos tê-lo feito. Mas esta não foi nossa escolha. Preferimos trabalho ativo na causa de Deus, uma vida itinerante, com todas as suas dificuldades, privações e riscos, a uma vida de indolência. Não temos vivido para nós mesmos, para nos satisfazer, mas temos tentado viver para Deus, para agradar-Lhe e glorificá-Lo. Não foi nosso objetivo labutar para obter bens; mas Deus tem cumprido Sua promessa dando-nos "cem vezes tanto" nesta vida. Marcos 10:30. Ele pode nos provar removendo-os de nós. Se assim acontecer, oramos por submissão a fim de humildemente suportar a prova.

Embora Ele nos tenha confiado talentos de dinheiro e influência, procuraremos investi-los em Sua causa, para que caso o fogo os consuma e a adversidade os diminua, tenhamos o prazer de saber que parte de nosso tesouro está onde o fogo não pode consumir ou a adversidade atingir. A causa de Deus é um banco seguro que nunca pode falir, e o investimento de nosso tempo, nosso interesse e nossos recursos nele é um tesouro no Céu que não falha.

Foi-me mostrado que meu marido tem tido três vezes mais responsabilidades do que deveria. Ele sentiu-se provado porque os irmãos R e S não o ajudaram a levar as responsabilidades, e sentiu-se angustiado porque não o ajudaram nas questões administrativas em relação ao Instituto e à Sociedade de Publicações. Tem havido progresso contínuo na obra de publicação desde que os infiéis foram dela separados. E ao aumentar o trabalho, deveria haver homens para partilhar as responsabilidades; mas alguns que poderiam tê-lo feito não tinham vontade, porque não aumentaria suas posses tanto quanto um negócio mais lucrativo.

Não há em nosso Escritório aquele talento que deveria haver. A obra requer as melhores e mais escolhidas pessoas para nela se empenharem. Com o presente estado de coisas no Escritório meu marido ainda sentirá a pressão que tem sentido, mas que não devia mais suportar. É somente por um milagre da graça de Deus que ele tem suportado o fardo por tanto tempo. Mas há agora muitas coisas a serem consideradas. Por seu cuidado perseverante e dedicação ao trabalho, ele tem mostrado o que pode ser feito na área de publicações. Homens com interesses altruístas combinados com critério santificado podem fazer do trabalho no Escritório um sucesso. Meu marido tem suportado sozinho o fardo por tanto tempo que isso tem afetado terrivelmente sua força, e há necessidade positiva de mudança. Ele precisa em grande medida ser liberado de responsabilidades, e ainda pode trabalhar na causa de Deus falando e escrevendo.

Quando voltamos de Kansas no outono de 1870, nós dois devíamos ter tido um período de descanso. Semanas de isenção de cuidados eram necessárias para restaurar nossas esgotadas energias. Mas quando encontramos o importante posto em Battle Creek quase abandonado, sentimo-nos obrigados a empenhar-nos no trabalho com energia dobrada, e trabalhamos acima de nossas forças. Foi-me mostrado que meu marido não deveria continuar lá, a menos que houvesse homens que reconhecessem as necessidades da causa e assumissem as responsabilidades da obra, enquanto ele atuaria como conselheiro. Ele precisa depor o fardo, porque Deus tem uma obra importante para ele fazer escrevendo e pregando a verdade. Nossa influência será maior para edificar a causa de Deus ao trabalharmos no vasto campo. Há imenso preconceito em muitas mentes. Afirmações falsas nos têm colocado sob uma luz errada diante do povo, e isto impede que muitos abracem a verdade. Se eles são levados a crer que aqueles que ocupam posições de responsabilidade na obra em Battle Creek são ardilosos e fanáticos, concluem que a obra inteira está errada e que nossas opiniões sobre verdades bíblicas devem ser incorretas, e receiam pesquisar e receber a verdade. Mas não devemos sair para chamar o povo a olhar para nós; não devemos como regra falar de nós mesmos e justificar nosso caráter; mas devemos falar da verdade, exaltar a verdade, falar de Jesus, exaltar a Jesus, e isto, acompanhado do poder de Deus, removerá preconceito e desarmará a oposição.

Os irmãos R e S gostam de escrever; o mesmo acontece com meu marido. E Deus tem permitido que Sua luz brilhe sobre Sua Palavra, e o tem levado a um campo de pensamento rico que seria uma bênção ao povo de Deus em geral. Enquanto ele levou um fardo triplo, alguns de seus irmãos no ministério têm deixado a responsabilidade cair pesadamente sobre ele, consolando-se com o pensamento de que Deus colocou o irmão White à frente da obra e o qualificou para isto, e que Deus não os tinha qualificado para essa posição; por conseguinte, eles não têm assumido a responsabilidade e levado os fardos que poderiam ter levado.

Outras pessoas deveriam sentir o mesmo interesse que meu marido tem sentido. Nunca houve um tempo mais importante na história dos adventistas do sétimo dia do que o presente. Em vez da obra de publicações diminuir, a demanda por nossas publicações está aumentando bastante. Haverá mais a fazer do que menos. Tem-se murmurado tanto contra meu marido, ele tem lutado contra ciúme e falsidade por tanto tempo, e tem visto tão pouca fidelidade nos homens, que suspeita de quase todos, mesmo de seus irmãos no ministério. Os irmãos no ministério têm sentido isto, e receando não agirem prudentemente, em muitos casos não têm feito absolutamente nada. Mas o tempo chegou quando estes homens precisam trabalhar unidos para assumir as responsabilidades. Os irmãos no ministério têm falta de fé e confiança em Deus. Crêem na verdade, e no temor de Deus devem unir seus esforços, e assumir as responsabilidades deste trabalho que Deus colocou sobre eles.

Se depois de alguém, em seu entender, haver feito o máximo ao seu alcance, outro pensar que ele deveria ter feito melhor, deve bondosa e pacientemente dar ao irmão o benefício de seu discernimento, mas não censurá-lo nem pôr em dúvida sua integridade de propósito, como não quereria que outros dele suspeitassem ou injustamente o censurassem. Se o irmão que tem no coração a causa de Deus vê que cometeu um erro, apesar de seus mais zelosos esforços no executá-la, sentirá profundamente o caso; pois tenderá a desconfiar de si próprio, perder a confiança no próprio discernimento. Coisa alguma lhe enfraquecerá tanto o ânimo e a varonilidade a ele conferida por Deus como compreender seus erros na obra que o Senhor lhe designou, obra que ele ama acima da própria vida. Quão injusto é, pois, que seus irmãos, descobrindo-lhe os erros, fiquem a apertar o espinho cada vez mais fundo em seu coração, para fazê-lo sentir mais intensamente, quando, a cada nova aguilhoada, o estão fazendo perder a fé, ânimo e a confiança em si mesmo para trabalhar com êxito na edificação da causa de Deus!

Freqüentemente tem-se de dizer claramente a verdade e os fatos aos que erram, a fim de os levar a verem e sentirem o erro, para que se reformem. Mas isso deve ser feito sempre com piedosa delicadeza, não com aspereza ou severidade; deve-se considerar a própria fraqueza, para que a pessoa não seja ela própria tentada também. Quando a pessoa em falta vê e reconhece seu erro, então, em vez de entristecê-la e fazer com que o sinta mais profundamente, deve-se dar conforto. No Sermão do Monte, Cristo disse: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós." Mateus 7:1, 2. Nosso Salvador reprovou o juízo precipitado. "Por que reparas tu no argueiro que está no olho de teu irmão e não vês a trave que está no teu olho?" Mateus 7:3. Freqüentemente acontece de uma pessoa ser pronta a discernir os erros de seus irmãos, enquanto ela mesma se encontra em maior falta e não percebe.

Todos os que somos seguidores de Cristo devemos tratar os outros da mesma maneira que desejamos que o Senhor trate conosco em nossos erros e fraquezas, pois todos erramos e precisamos de Sua compaixão e perdão. Jesus consentiu em tomar a natureza humana, a fim de saber como compadecer-Se e interceder junto de Seu Pai em favor dos pecadores e errantes mortais. Ele Se prontificou a tornar-Se o advogado do ser humano. Humilhou-Se para familiarizar-Se com as tentações pelas quais o homem era assaltado, para que pudesse socorrer os que fossem tentados, e ser um sumo sacerdote compassivo e fiel.

Muitas vezes há necessidade de repreender positivamente o pecado e reprovar o erro. Mas os pastores que trabalham pela salvação de seus semelhantes não devem ser inclementes para com os erros uns dos outros, nem salientar os defeitos existentes em suas organizações. Não devem expor ou reprovar suas fraquezas. Devem verificar se tal procedimento da parte de outro para com eles produziria o efeito desejado. Aumentaria isto seu amor para com aquele que lhes patenteasse as faltas e promoveria sua confiança nele? Especialmente os erros dos pastores empenhados na obra de Deus devem ser conservados dentro do menor círculo possível, pois há muitas pessoas fracas que disso se prevalecerão, caso saibam que aqueles que ministram na palavra e na doutrina têm fraquezas como os outros homens. Coisa mui cruel é serem as faltas de um pastor expostas a descrentes, caso seja ele considerado digno de trabalhar futuramente pela salvação de almas. Bem algum pode vir de assim o expor, mas unicamente mal. O Senhor Se desagrada com essa atitude, pois ela destrói a confiança do povo naqueles que Ele aceita para levarem avante Sua obra. O caráter de todo coobreiro deve ser zelosamente protegido pelos irmãos de ministério. Disse Deus: "Não toqueis nos Meus ungidos e não maltrateis os Meus profetas." Salmos 105:15; 1 Crônicas 16:22. Cumpre nutrir amor e confiança. A falta desse amor e confiança de um pastor para com outro não aumenta a felicidade daquele que é nisso deficiente, mas, ao tornar seu irmão infeliz, fica-o ele próprio também. Há maior poder no amor do que jamais se encontrou na censura. O amor abrirá caminho por entre barreiras, ao passo que a censura fechará toda entrada da alma.

Meu marido precisa mudar. Perdas podem ocorrer no Escritório de publicação por falta de sua longa experiência, mas a perda de dinheiro não se compara com a saúde e vida do servo de Deus. A entrada de recursos pode não ser tão grande por falta de gerentes financeiros; mas se meu marido ficasse de novo doente, isso desencorajaria seus irmãos e enfraqueceria suas mãos. Recursos não podem entrar como compensação.

Há muito que fazer. Missionários devem estar no campo dispostos, se preciso for, a ir a países estrangeiros para apresentar a verdade àqueles que estão em trevas. Mas há pouca disposição entre jovens para se consagrarem a Deus e devotar seus talentos a Seu serviço. Estão muito prontos a evitar responsabilidades e fardos. Não estão obtendo a experiência em levar responsabilidades ou no conhecimento das Escrituras que devem ter para qualificá-los para a obra que Deus aceitaria de suas mãos. É o dever de todos ver quanto podem fazer para o Mestre que morreu por eles. Mas muitos estão procurando fazer o menos possível e acariciam a vaga esperança de finalmente entrar no Céu. É seu privilégio ter estrelas em sua coroa por causa de pecadores salvos por seu intermédio. Mas, ai, indolência e preguiça espiritual prevalecem por toda parte! Egoísmo e orgulho lhes ocupam um grande lugar no coração, e há pouco espaço para coisas celestiais.

Na oração que Cristo ensinou a Seus discípulos havia a petição: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Mateus 6:12. Não podemos repetir esta oração de coração e atrever-nos a ser implacáveis, porque pedimos ao Senhor que perdoe nossas transgressões contra Ele do mesmo modo que perdoamos àqueles que transgridem contra nós. Mas poucos reconhecem o verdadeiro significado desta oração. Se aqueles que são implacáveis entendessem a profundidade de seu significado não ousariam repeti-la e pedir a Deus que os trate como eles tratam a seus semelhantes. Contudo, esse espírito de dureza e falta de perdão existe em terrível extensão mesmo entre irmãos. Irmão é rigoroso com irmão.

Provas peculiares

A posição que meu marido tem ocupado por tanto tempo na causa e obra de Deus tem sido de provações peculiares. Sua aptidão para negócios e sua clara visão têm levado seus irmãos no ministério a deixar cair responsabilidades sobre ele que eles mesmos deviam ter levado. Isso tem tornado suas responsabilidades muito grandes. E enquanto seus irmãos não assumiram sua parte nas responsabilidades, perderam uma valiosa experiência que era seu privilégio obter, caso tivessem exercitado a mente a fim de cuidar, ver e sentir o que precisava ser feito para edificação da causa.

Grandes provas têm sido trazidas sobre meu marido pelo fato de seus irmãos no ministério não terem ficado a seu lado quando mais precisava de ajuda. O desapontamento que ele tem sentido repetidamente quando aqueles dos quais dependia lhe falharam em ocasiões da maior necessidade quase destruiu sua capacidade de confiar na constância de seus irmãos no ministério. Seu espírito foi tão ferido que ele se sentiu justificado em ficar melindrado, e permitiu que sua mente se demorasse sobre desencorajamentos. Deus gostaria que ele fechasse esse conduto de trevas, pois corre perigo de naufragar aqui. Quando sua mente fica deprimida, é natural para ele recordar o passado e demorar-se sobre seus sofrimentos anteriores; e irreconciliabilidade toma posse de seu espírito, porque Deus tem permitido que fosse assediado por provas trazidas sobre ele desnecessariamente.

O Espírito de Deus tem sido entristecido porque ele não entregou sua vida totalmente a Deus nem confiou inteiramente em Sua providência, permitindo que a mente seguisse pelo caminho da dúvida e incredulidade em relação à integridade de seus irmãos. Falando de dúvidas e desalento ele não remediou o mal, mas enfraqueceu a própria força e tem dado a Satanás ocasião de molestá-lo e afligi-lo. Ele tem errado em se desabafar de seu desalento e demorar-se sobre os aspectos desagradáveis de sua experiência. Falando assim, ele espalha trevas e não luz. Por vezes ele tem posto um peso de desalento sobre seus irmãos, o que não lhe trouxe a menor ajuda, mas tão-somente enfraqueceu suas mãos. Ele devia fazer uma regra de não falar de descrença ou desalento, ou de demorar-se sobre seus ressentimentos. Seus irmãos em geral o têm amado e tido dó dele, e o tem desculpado por isto, conhecendo a pressão da responsabilidade que pesava sobre ele e sua devoção à causa de Deus.

Meu esposo trabalhou incansavelmente para elevar o interesse nas publicações ao seu presente estado de prosperidade. Percebi que ele tivera mais simpatia e amor dos irmãos do que pensava ter. Eles ansiosamente examinam o periódico para ver se há algo de sua pena. Se há um tom de ânimo em seus escritos, se ele fala animadoramente, sentem o coração aliviado, e alguns até choram com ternos sentimentos de alegria. Mas se expressa palavras de tristeza e sombras, o semblante dos irmãos e irmãs torna-se triste ao lerem. O espírito que caracteriza seus escritos se reflete neles.

O Senhor está procurando ensinar meu marido a ter um espírito de perdão e de esquecimento das passagens escuras de sua experiência. A lembrança do passado desagradável somente entristece o presente, e ele revive a parte desagradável da história de sua vida. Ao fazê-lo, está se apegando às trevas e apertando o espinho ainda mais fundo em seu espírito. Esta é a fraqueza de meu marido, e é desagradável a Deus. Isso traz escuridão e não luz. Ao expressar seus sentimentos, ele pode sentir um alívio aparente por algum tempo; mas isso somente torna mais agudo o senso de quão grandes seus sofrimentos e provas têm sido, até que o todo se torna ampliado em sua imaginação. Os erros dos irmãos que ajudaram a trazer essas provas sobre ele parecem tão graves que lhe afiguram insuportáveis.

Meu marido tem acariciado essas trevas por tanto tempo, ao reviver o passado infeliz, que tem pouca força para controlar a mente quando se demora sobre essas coisas. Circunstâncias e acontecimentos que antes não o teriam incomodado ampliam-se diante dele como faltas graves da parte de seus irmãos. Ele se tornou tão sensível às faltas sob as quais sofreu que é necessário que fique o menos possível nos arredores de Battle Creek, onde muitas das circunstâncias desagradáveis ocorreram. Deus curará seu espírito ferido, se ele o permitir. Mas ao fazê-lo terá de enterrar o passado. Não deve falar ou escrever a respeito disso.

É positivamente desagradável a Deus que meu marido reconte suas dificuldades e suas mágoas peculiares do passado. Se ele visse essas coisas à luz de que não foram feitas a ele, mas ao Senhor, de quem ele é instrumento, então teria recebido grande recompensa. Mas ele tomou as murmurações de seus irmãos como dirigidas contra ele e tem-se sentido sob a obrigação de fazer que todos compreendam a falta e a maldade de assim se queixarem dele quando não merecia sua censura e ofensa.

Se meu marido houvesse sentido que poderia deixar essa questão com o Senhor, e que murmurações e negligência foram contra o Mestre e não contra o servo a serviço do Mestre, não teria se sentido tão ofendido, nem sido prejudicado. Ele deveria ter deixado isso com o Senhor, de quem é servo, para travar Suas batalhas por ele e vindicar Sua causa. Então teria recebido uma recompensa preciosa por todo seu sofrimento por amor de Cristo.

Vi que meu marido não deveria demorar-se sobre os fatos penosos em nossa experiência. Nem deveria ter escrito sobre suas mágoas, mas distanciar-se delas o máximo possível. Deus curará as feridas do passado se ele desviar a atenção das mesmas. "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas." 2 Coríntios 4:17, 18. Quando confissões são feitas por seus irmãos que têm estado em falta, ele deve aceitar as confissões e, generosa e nobremente, procurar encorajar aqueles que foram enganados pelo inimigo. Ele deve cultivar um espírito de perdão e não deve demorar-se sobre as faltas e erros de outros, porque assim fazendo não só enfraquece o próprio coração, mas tortura a mente de seus irmãos que erraram, quando eles podiam ter feito o que fosse possível fazer por confissão, para corrigir os erros passados. Se Deus vir que é necessário que qualquer porção de seu passado lhes deva ser apresentado, para que compreendam como evitar erros no futuro, Ele fará esta obra; mas meu marido não deve atribuir-se o fazê-lo, porque desperta cenas passadas de sofrimento que o Senhor gostaria que ele esquecesse.