Prezado irmão A:
Minha mente está aflita em relação a seu caso. Eu lhe escrevi algumas coisas que me foram mostradas quanto a sua conduta passada, presente e futura. Sinto-me ansiosa pelo irmão porque vi seus perigos. Sua experiência anterior no espiritismo o expõe a tentações e conflitos severos. Quando a mente foi uma vez rendida ao controle direto do inimigo através de anjos maus, essa pessoa deve desconfiar bastante das impressões e sentimentos que a levariam a um caminho independente, para longe da igreja de Cristo. O primeiro passo que tal pessoa tomasse independentemente da igreja devia ser considerado como uma artimanha do inimigo para enganar e destruir. Deus fez de Sua igreja um conduto de luz, e através dela comunica Seus propósitos e Sua vontade. Ele não dá a ninguém uma experiência independente da igreja. Não dá a ninguém um conhecimento de Sua vontade para a igreja inteira, enquanto a igreja, o corpo de Cristo, é deixada na escuridão.
Irmão A, você precisa vigiar com o maior cuidado como edifica. Uma tempestade está por vir que provará sua esperança ao máximo. Você deve cavar fundo e fazer seguro seu fundamento. "Todo aquele, pois, que escuta estas Minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha." Mateus 7:24, 25. Gradualmente o construtor põe uma pedra sobre a outra até que a estrutura se ergue pedra sobre pedra. O construtor do evangelho freqüentemente executa seu trabalho com lágrimas e em meio a provações, tempestades de perseguições, oposição amarga e censura injusta; mas ele se sente profundamente zeloso, porque está edificando para a eternidade. Cuide, irmão A, para que seu fundamento seja rocha sólida, que você esteja cravado nela, Cristo sendo a Rocha.
Você tem uma vontade forte e fixa, um espírito muito independente que sente dever preservar a todo custo. E tem manifestado o mesmo espírito em sua experiência e vida religiosas. Você nem sempre tem estado em harmonia com a obra de Deus como executada por seus irmãos americanos. Não tem visto como eles vêem nem estado de acordo com seu modo de proceder. Você tem tido muito pouca familiaridade com a obra em seus vários segmentos. Não se tem sentido ansioso de familiarizar-se com os vários ramos da obra. Tem considerado a obra com suspeita e desconfiança, bem como os líderes escolhidos por Deus para levá-la adiante. Tem sido mais pronto a questionar, suspeitar e ter inveja daqueles sobre os quais Deus colocou as pesadas responsabilidades de Sua obra do que para pesquisar e para ligar-se à causa de Deus de modo a familiarizar-se com sua atuação e progresso.
Deus viu que você não era qualificado para ser pastor, um ministro de justiça para proclamar as verdades a outros, até você se tornar um homem inteiramente transformado. Ele permitiu que você passasse por provas reais e sentisse privação e necessidade, para que soubesse como manifestar piedade e simpatia e terno amor para com os desafortunados e oprimidos, e por aqueles que são esmagados por necessidade e que passam por provas e aflição.
Quando em sua aflição você orou por paz em Cristo, uma nuvem de escuridão parecia enegrecer-lhe a mente. O descanso e paz não vieram como você esperava. Por vezes sua fé parecia ser provada ao máximo. Ao rever sua vida passada, viu tristeza e desapontamento; ao contemplar o futuro, tudo parecia incerto. A Mão divina o conduziu maravilhosamente para levá-lo à cruz e para ensinar-lhe que Deus é de fato "galardoador dos que O buscam" diligentemente. Hebreus 11:16. "Qualquer que pede" corretamente, "recebe". "Quem busca" com fé, "acha". Lucas 11:10. A experiência obtida na fornalha da provação e aflição vale mais do que toda a inconveniência e penosa situação que ela causa.
Deus respondeu, nem sempre de acordo com sua expectativa, mas para seu bem, às orações que você fez em sua solidão, fadiga e provação. Você não tinha opiniões claras e corretas de seus irmãos, nem se via numa luz correta. Mas, na providência de Deus, Ele atuava para responder às orações que você fez em sua aflição, de modo a salvá-lo e glorificar o nome dEle. Em sua ignorância de si mesmo, pediu coisas que não eram as melhores para você. Deus ouviu-lhe as orações sinceras, mas a bênção concedida foi muito diferente de suas expectativas. Deus quis, em Sua providência, colocá-lo mais diretamente em ligação com Sua igreja, para que sua confiança fosse menos em si mesmo e maior em outros a quem Ele está dirigindo para promover Sua obra.
Deus ouve toda oração sincera. Ele o poria em ligação com Sua obra a fim de poder levá-lo mais diretamente à luz. A menos que cerrasse sua vista contra a evidência e a luz, você se persuadiria de que, se fosse mais desconfiado de si mesmo e menos desconfiado de seus irmãos, seria mais próspero em Deus. É Deus quem o levou a situações difíceis. Ele tinha um propósito nisso, "sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança". Romanos 5:3, 4. Permitiu que provas lhe sobreviessem a fim de por elas você poder experimentar os frutos pacíficos da justiça.
Pedro negou o Homem de Dores ao Se familiarizar Ele com a dor na hora de Sua humilhação. Mas depois se arrependeu e foi convertido de novo. Ele teve verdadeira contrição de espírito e se rendeu de novo a seu Salvador. Com lágrimas que o cegavam, abre caminho para a solidão do Jardim de Getsêmani e lá se prostra onde vira seu Salvador prostrado quando o suor de sangue vertia de Seus poros por causa de Sua grande agonia. Pedro se lembra com remorso que ele dormia quando Jesus orava durante aquelas horas horríveis. Seu coração orgulhoso parte-se, e lágrimas penitenciais molham o solo recentemente manchado com as gotas de suor sangrento do querido Filho de Deus. Um homem convertido deixou o jardim. Estava pronto então para condoer-se dos que são tentados. Ele foi humilhado e podia simpatizar-se com os fracos e com os que erram. Podia prevenir e advertir os presunçosos, e estava perfeitamente qualificado para fortalecer seus irmãos.
Deus levou você através de aflição e provações para que pudesse ter confiança mais perfeita nEle, e para que pensasse menos no próprio discernimento. Você pode suportar adversidade melhor do que prosperidade. Os olhos de Jeová que tudo vêem perceberam em você muita escória que você considerava ser ouro e demasiado valioso para ser jogado fora. O poder do inimigo sobre você tem sido por vezes direto e muito forte. Os enganos do espiritualismo lhe tinham obscurecido a fé, pervertido o discernimento e lhe confundido a experiência. Deus em Sua providência o provaria, para purificá-lo, como os filhos de Levi, para que você pudesse oferecer-Lhe uma oferta em justiça.
O eu está misturado em demasia com todos os seus esforços. Sua vontade precisa ser moldada pela vontade de Deus, ou você cairá em graves tentações. Vi que quando você esforçar-se em Deus, pondo o eu fora de vista, receberá dEle força que lhe dará acesso aos corações. Anjos de Deus cooperarão com seus esforços quando você for humilde e pequeno aos próprios olhos. Mas quando pensa que sabe mais do que aqueles que Deus tem guiado durante anos, e a quem Ele tem estado a instruir na verdade e a qualificar para expandir Sua obra, você se eleva e cairá em tentações.
Você precisa cultivar bondade e ternura. Precisa ser compassivo e cortês. Seus trabalhos têm vestígios de severidade e de um espírito exigente, ditatorial e dominante. Você nem sempre leva em consideração os sentimentos dos outros, e desnecessariamente cria dificuldades e descontentamentos. Mais amor em seu trabalho e mais bondosa simpatia dar-lhe-iam acesso aos corações e ganhariam pessoas para Cristo e a verdade.
Você está constantemente inclinado à independência individual. Não reconhece que independência é algo pobre quando o leva a ter excessiva confiança em si mesmo e a confiar no próprio discernimento em vez de respeitar o conselho e valorizar altamente o discernimento de seus irmãos, especialmente daqueles nos escritórios, os quais Deus designou para a salvação do Seu povo. Deus investiu Sua igreja com especial autoridade e poder, por cuja desconsideração e desprezo ninguém se pode justificar, pois aquele que assim procede despreza a voz de Deus.
Não lhe é seguro confiar em impressões e sentimentos. Tem sido seu infortúnio cair sob o poder daquele engano satânico, o espiritualismo. Este manto de morte o cobriu, e sua imaginação e nervos têm estado sob o controle de demônios; e quando se torna autoconfiante e não se apega a Deus com inabalável confiança, você está positivamente em perigo. Você pode, e freqüentemente o faz, deixar cair as defesas e convidar o inimigo a entrar, e ele lhe controla os pensamentos e ações, enquanto está realmente enganado e se gaba de desfrutar do favor de Deus.
Satanás tem tentado impedi-lo de confiar em seus irmãos americanos. Você os tem considerado e a suas ações e experiência com suspeita, quando eles são exatamente as pessoas que poderiam ajudá-lo e que lhe seriam uma bênção. Será o esforço calculado de Satanás separá-lo daqueles que são condutos de luz, através dos quais Deus comunicou Sua vontade e através dos quais tem Ele atuado em edificar e estender Sua obra. Suas opiniões, sentimentos e experiência são demasiado limitados, e seus trabalhos são do mesmo caráter.
A fim de ser uma bênção para sua gente, você precisa melhorar em muitos pontos. Deve cultivar cortesia e nutrir terna simpatia por todos. Deve ter a graça coroadora de Deus, que é o amor. Você critica demais e não é tão paciente como precisa ser se quiser ganhar almas. Podia exercer muito mais influência se fosse menos formal e rígido, e fosse mais influenciado pelo Espírito Santo. Seu receio de ser dirigido por homens é demasiado grande. Deus usa homens como Seus instrumentos e os usará enquanto o mundo existir.
Os anjos que caíram ansiavam tornar-se independentes de Deus. Eram muito belos, muito gloriosos, mas sua felicidade, luz e inteligência que desfrutavam dependiam de Deus. Caíram de seu estado elevado por insubordinação. Cristo e Sua igreja são inseparáveis. Negligenciar ou desprezar aqueles a quem Deus designou para dirigir e levar responsabilidades relacionadas com Sua obra e com o avanço e disseminação da verdade é rejeitar os meios que Deus ordenou para ajuda, encorajamento e força de Seu povo. Deixar a estes de lado e pensar que sua luz não deve vir por nenhum outro conduto do que diretamente de Deus o coloca em uma posição onde você está sujeito ao engano e a ser derrubado.
Deus o colocou em contato com Seus designados ajudadores em Sua igreja para que você fosse auxiliado por eles. Sua ligação anterior com o espiritualismo torna seu perigo maior do que seria de outro modo, pois seu julgamento, sabedoria e discernimento têm sido pervertidos. Você nem sempre pode por si mesmo reconhecer ou discernir os espíritos; porque Satanás é muito astuto. Deus o colocou em contato com Sua igreja para que seus membros o ajudassem.
Algumas vezes você é demasiado formal, frio e antipático. Precisa encontrar o povo onde ele está, e não se colocar muito acima nem exigir demais dele. Precisa ser abrandado e subjugado pelo Espírito de Deus quando prega ao povo. Deve educar-se quanto à melhor maneira de labutar para obter o fim desejado. Seu trabalho deve ser caracterizado pelo amor de Jesus enchendo-lhe o coração, suavizando-lhe as palavras, moldando-lhe o temperamento e enobrecendo-lhe o espírito.
Você freqüentemente fala durante muito tempo quando não tem a influência vitalizadora do Espírito do Céu. Você cansa aqueles que o ouvem. Muitos cometem erro ao pregar não parando enquanto o interesse é alto. Continuam sua palestra até que o interesse que surgiu na mente do ouvinte morre e o povo está realmente fatigado com palavras sem peso ou interesse especiais. Pare antes de lá chegar. Pare quando não tiver nada de especial a dizer. Não continue com palavras maçantes que somente despertam o preconceito e não abrandam o coração. Precisa de tal modo estar unido com Cristo que suas palavras derreterão e abrirão o caminho ao coração. Mera multiplicação de palavras é insuficiente para este tempo. Argumentos são bons, mas pode haver argumentação excessiva e muito pouco do espírito e vida de Deus.
Sem o poder especial de Deus para atuar com seus esforços, seu espírito subjugado e humilhado em Deus, seu coração abrandado, suas palavras provindo de um coração de amor, seus trabalhos serão cansativos para você mesmo e desprovidos de resultados abençoados. Há um ponto ao qual o ministro de Deus chega, além do qual conhecimento humano e perícia são ineficazes. Estamos lutando com erros gigantescos, e com males que somos incapazes de remediar ou despertar o povo para ver e compreender, porque não podemos mudar o coração. Não podemos vivificar o coração para discernir a perversidade do pecado e sentir a necessidade de um Salvador. Mas se nossos trabalhos levarem o timbre do Espírito de Deus, se um poder mais elevado, divino, acompanhar nossos esforços para semear a semente do evangelho, veremos frutos de nosso esforço para a glória de Deus. Ele somente pode regar a semente semeada.
Assim é com você, irmão A. Não deve ser tão apressado e esperar demais de mentes obscurecidas. Deve acalentar a esperança humilde de que Deus graciosamente comunicará a influência misteriosa e vivificadora de Seu Espírito, mediante o qual somente seus trabalhos não serão em vão no Senhor. Precisa apegar-se a Deus com fé viva, reconhecendo a todo momento seus perigos e sua fraqueza, e constantemente procurando aquela força e poder que somente Deus pode dar. Por mais que se esforce, por si mesmo nada pode fazer.
Você precisa educar-se a fim de ter sabedoria para lidar com as mentes. Com alguns você precisa ter compaixão, fazendo uma diferença, enquanto outros você pode salvar com temor, arrebatando-os do fogo. Nosso Pai celestial freqüentemente nos deixa na incerteza quanto a nossos esforços. Devemos semear sobre todas as águas, não sabendo qual vai prosperar, se esta ou aquela. Eclesiastes 11:6. Podemos estimular nossa fé e energia com a Fonte de nossa força, e apoiar-nos com plena e inteira dependência sobre Ele.
Irmão A, você necessita trabalhar com a máxima diligência para controlar o eu e desenvolver um caráter em harmonia com os princípios da Palavra de Deus. Você precisa educar-se e treinar-se a fim de tornar-se um pastor bem-sucedido. Precisa cultivar bom temperamento -- traços de caráter bondosos, alegres, animadores, generosos, compassivos, corteses e piedosos. Deve vencer seu espírito mal-humorado, fanático, estreito, crítico e dominante. Se está ligado com a obra de Deus precisa batalhar consigo mesmo vigorosamente e formar o caráter segundo o Modelo divino.
Sem esforço constante de sua parte e sob a influência de uma mente corrupta, algum desenvolvimento aparecerá e bloqueará seu caminho, impedimento este que você estará inclinado a atribuir a alguma causa que não a verdadeira. Você precisa de disciplina própria. Nossa piedade não deve parecer azeda, fria e mal-humorada; mas amável e dócil. Um espírito crítico vai impedir seu caminho e fechará corações contra você. Se não for humildemente dependente de Deus, com freqüência bloqueará o próprio caminho com obstáculos e os atribuirá à conduta de outros.
Precisa vigiar-se, para não ensinar a verdade nem cumprir seus deveres com espírito fanático que despertará preconceito. Necessita esforçar-se para apresentar-se "a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar". 2 Timóteo 2:15. Pergunte a si mesmo qual é sua disposição natural, que caráter desenvolveu. Deve ser seu empenho, como de todo ministro de Cristo, exercer a maior vigilância para não cultivar hábitos de conduta, ou tendências mentais e morais, que não gostaria de ver aparecer entre aqueles que você leva à verdade.
Ordena-se aos ministros de Cristo que sejam exemplos ao rebanho de Deus. A influência de um pastor pode fazer muito para moldar o caráter de sua congregação. Se o pastor é indolente, se não é puro de coração e vida, e se é mordaz, crítico e censurador, egoísta, independente e destituído de domínio próprio, terá de confrontar os mesmos elementos desagradáveis em elevado grau e lidar com eles entre sua congregação, e é um trabalho difícil endireitar as coisas onde más influências fizeram confusão. O que eles vêem em seu pastor fará grande diferença quanto ao desenvolvimento de virtudes cristãs no povo. Se sua vida é uma combinação de excelências, aqueles que ele leva ao conhecimento da verdade por seu trabalho, se realmente amam a Deus, refletirão em elevado grau seu exemplo e influência, pois ele é um representante de Cristo. Assim o pastor deve sentir sua responsabilidade em enriquecer a doutrina de Deus nosso Salvador em todas as coisas.
O mais elevado esforço do ministro do evangelho deve ser devotar todos os seus talentos ao trabalho de salvar pessoas; então ele será bem-sucedido. Disciplina prudente e vigilante é necessária para todos os que se chamam pelo nome de Cristo; mas em um sentido muito mais elevado é essencial ao ministro do evangelho, que é um representante de Cristo. Nosso Salvador enchia de admiração as pessoas por Sua pureza e moralidade elevada, enquanto Seu amor e gentil benignidade os inspirava com entusiasmo. Os mais pobres e mais humildes não receavam achegar-se a Ele; mesmo criancinhas eram atraídas a Ele. Elas gostavam de subir em Seu colo e beijar aquele rosto pensativo, cheio de amor. Esta amável ternura é o que você precisa. Você deve cultivar o amor. Expressões de simpatia e atos de cortesia e respeito pelos outros não diminuiriam o mínimo de sua dignidade, mas lhe abririam muitos corações que agora estão fechados contra você.
Cada pastor deve esforçar-se para ser semelhante a Cristo. Devíamos aprender a imitar Seu caráter e combinar estrita justiça, pureza, integridade, amor e nobre generosidade. Um semblante agradável o qual reflete amor, com maneiras bondosas e corteses, fará mais, fora dos esforços do púlpito, do que trabalho junto a uma escrivaninha pode fazer sem os mesmos. É apropriado cultivarmos consideração para com a opinião de outros, quando, em medida maior ou menor, somos absolutamente dependentes deles. Devíamos cultivar verdadeira cortesia cristã e terna simpatia, mesmo para com os casos mais grosseiros e difíceis da humanidade. Jesus veio das cortes puras do Céu para salvar justamente tais pessoas. Você fecha o coração muito facilmente para muitos que aparentemente não têm interesse na mensagem que apresenta, mas que ainda são dependentes da graça e preciosos aos olhos do Senhor. "O que ganha almas sábio é." Provérbios 11:30. Paulo fez-se "tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns". 1 Coríntios 9:22. Você precisa estar em condição semelhante. Precisa livrar-se de sua independência. Precisa de humildade de espírito. Necessita da influência enternecedora da graça de Deus sobre o coração, para que não irrite mas abra caminho ao coração das pessoas, embora tais corações possam ser afetados por preconceito.
A causa de Deus necessita muito de homens fervorosos, homens ricos em zelo, esperança, fé e coragem. Não são homens obstinados que podem enfrentar as exigências desta época, mas homens fervorosos. Temos muitos pastores suscetíveis que são fracos em experiência, deficientes nas graças cristãs, destituídos de consagração e que são facilmente desencorajados; que estão prontos para satisfazer a própria vontade e que são perseverantes em seus esforços para realizar seus propósitos egoístas. Tais homens não preencherão as exigências desta época. Necessitamos de homens, nestes últimos dias, que estejam sempre alerta. Precisamos de homens do momento que sejam sinceros em seu amor pela verdade e dispostos a trabalhar com sacrifício para promover a causa de Deus e salvar almas preciosas. Precisa-se de homens nesta obra que não murmurem nem se queixem por causa de dificuldades ou provações, sabendo que isso é parte do legado que Jesus lhes deixou. Devem estar dispostos a sair do acampamento e sofrer afronta e carregar fardos como bons soldados de Cristo. Carregarão a cruz de Cristo sem queixas, sem murmuração ou mau humor e serão "pacientes na tribulação". Romanos 12:12.
A verdade solene e incisiva para estes últimos dias nos é confiada, e devíamos fazer dela uma realidade. Irmão A, você deve evitar fazer de si mesmo um critério. Evite, eu lhe peço, apelar para a autocomiseração. Tudo que podemos sofrer e formos chamados a sofrer por amor da verdade parecerá demasiado pequeno para ser comparado com o que nosso Salvador suportou por nós pecadores. Você não espere ser sempre corretamente avaliado nem corretamente representado. Cristo disse que no mundo teríamos aflições, mas nEle teremos paz.
Você tem cultivado um espírito combativo. Quando seu caminho é cruzado, imediatamente se lança numa posição defensiva; e, embora possa estar entre seus irmãos que amam a verdade e que deram a vida à causa de Deus, você se justifica, enquanto os critica e torna-se ciumento de suas palavras e desconfiado de seus motivos, e assim perde grandes bênçãos que é seu privilégio obter mediante a experiência de seus irmãos.
Debates devem ser evitados
Você tem apreciado debater pela verdade e gostado de discussões; mas essas competições têm sido desfavoráveis para você formar caráter cristão harmonioso, porque nisto há uma oportunidade favorável para a exibição dos próprios traços de caráter que você precisa vencer se algum dia pensa entrar no Céu. Debates nem sempre podem ser evitados. Em alguns casos as circunstâncias são tais que entre dois males se deve escolher o menor, que é o debate. Mas onde quer que possam ser evitados, devem ser, porque o resultado raramente traz honra a Deus.
As pessoas que gostam de ver adversários em combate talvez clamem por discussões. Outros que têm o desejo de ouvir as provas de ambos os lados podem incitar debates com os mais sinceros motivos; mas sempre que eles forem evitáveis, evitem-se. Geralmente, eles fortalecem a combatividade e enfraquecem aquele amor puro e aquela sagrada simpatia que sempre se devem achar no coração dos cristãos, muito embora divirjam de opinião.
Nesta época em que vivemos, o solicitarem-se debates não é prova real de sincero desejo da parte do povo de conhecer a verdade, mas provém do amor da novidade e da agitação que em geral acompanha os debates. Raramente Deus é glorificado ou a verdade impulsionada nesses debates. A verdade é demasiado solene, demasiado importante em seus resultados, para que seja coisa de pouca importância, o ser ela recebida ou rejeitada. Discutir a verdade para mostrar aos adversários a habilidade dos combatentes é sempre lamentável método; pois tal coisa bem pouco realiza quanto à divulgação da verdade.
Os oponentes da verdade mostrarão habilidade em apresentar falsamente a posição dos defensores da mesma. Em regra, eles escarnecem da verdade sagrada, apresentando-a ao público em tão falso aspecto que espíritos obscurecidos pelo erro e poluídos pelo pecado não discernem os motivos e propósitos desses maquinadores em assim encobrir e falsificar importantes verdades. Em virtude dos homens que neles se empenham, poucos são os debates que se podem realizar sobre base sã. Dão-se freqüentemente agudos golpes, permitem-se ataques pessoais, e muitas vezes ambas as partes descem ao sarcasmo e ao humorismo. O amor às pessoas perde-se em face de um desejo maior -- o da supremacia. Profundo e amargo preconceito, eis tantas vezes o resultado.
Contemplei anjos entristecidos quando as mais preciosas jóias da verdade têm sido apresentadas a pessoas totalmente incapazes de apreciar as evidências a favor da verdade. Todo seu ser estava em guerra contra os princípios da verdade; a natureza destes lhes era adversa. Seu objetivo no debate não era para que pudessem eles mesmos apreender as evidências a favor da verdade e nem que o povo pudesse ter uma compreensão justa de nossa verdadeira posição, mas para que pudessem confundir o entendimento colocando a verdade em uma luz pervertida diante do povo. Há homens que se educaram como combatentes. É sua prática citar erradamente um oponente e encobrir argumentos claros com enganos desonestos. Devotaram as faculdades que Deus lhes deu a esta obra desonesta, porque nada há em seu coração em harmonia com os princípios puros da verdade. Apoderam-se de qualquer argumento que podem obter com os quais arrasar os defensores da verdade, quando eles mesmos não crêem nas coisas que alegam contra eles. Eles se escoram em sua posição escolhida, sem consideração pela justiça ou verdade. Não consideram que adiante deles vem o juízo, e que então seu triunfo obtido desonestamente, com todos os seus resultados desastrosos, vai aparecer em seu verdadeiro caráter. O erro, com toda a sua política enganosa, suas torcidas e seus malabarismos para transformar a verdade em mentira, aparecerá então em toda sua deformidade. Nenhuma vitória resistirá no dia de Deus; somente aquela que a verdade, verdade pura, elevada e sagrada, ganhará para a glória de Deus.
Os anjos choram ao ver a verdade preciosa de origem celeste lançada aos porcos, para ser apanhada por eles e pisada na lama e na sujeira. "Nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despedacem." Mateus 7:6. Estas são as palavras do Redentor do mundo.
Os ministros de Deus não devem considerar um grande privilégio a oportunidade de se empenharem em debate. Nem todos os pontos de nossa fé devem ser expostos em público e apresentados às multidões que nutrem preconceitos. Jesus falou aos fariseus e saduceus em parábolas, escondendo a clareza da verdade sob símbolos e figuras porque fariam mau uso das verdades que Ele lhes apresentava; mas a Seus discípulos Ele falou claramente. Devíamos aprender do método de ensino de Cristo, e cuidar de não ofender os ouvidos das pessoas apresentando verdades as quais, não sendo explicadas no todo, não estão de modo algum preparadas para receber.
As verdades que nos são comuns devem ser consideradas em primeiro lugar, e alcançada a confiança dos ouvintes; então, à medida que o povo compreenda, podemos avançar vagarosamente com a matéria apresentada. Necessita-se de grande sabedoria para apresentar a verdade impopular a um povo preconceituoso, da maneira mais cautelosa, para que se ganhe acesso a seu coração. Debates colocam diante do povo, que não está esclarecido quanto à nossa posição e que é ignorante acerca da verdade bíblica, uma série de argumentos habilmente compostos e cuidadosamente arranjados para abranger os claros pontos da verdade. Algumas pessoas se especializaram em encobrir declarações simples de fatos da Palavra de Deus com suas teorias enganosas, que elas tornam plausíveis àqueles que não pesquisaram por si mesmos.
É difícil enfrentar esses agentes de Satanás, e é difícil ter paciência com eles. Mas calma, paciência e domínio próprio são elementos que cada ministro de Cristo deve cultivar. Os oponentes da verdade se educaram para uma batalha intelectual. Estão preparados para apresentar à primeira vista enganos e argumentos como sendo a Palavra de Deus. Confundem mentes crédulas e colocam a verdade na obscuridade, ao mesmo tempo que fábulas agradáveis são apresentadas ao povo em lugar da pura verdade bíblica.
Muitos procuram as trevas em lugar da luz, porque suas ações são más. Muitos há, porém, que se a verdade lhes houvesse sido apresentada de maneira diversa, sob outras circunstâncias, dando-lhes uma favorável oportunidade de pesar os argumentos por si mesmos, e comparar texto com texto, teriam ficado encantados com sua clareza e se apegado a ela.
Tem sido muito imprudente da parte de nossos pastores publicar ao mundo os astutos enganos do erro, arranjados por homens mal-intencionados para encobrir e anular os efeitos da solene e santa verdade de Jeová. Esses homens astutos, que armam ciladas para enganar os descuidados, dedicam suas energias intelectuais a perverter a Palavra de Deus. Os inexperientes e descuidados são iludidos, para ruína sua. Tem sido um grande erro publicar todos os argumentos com que os oponentes combatem a verdade de Deus; pois assim fazendo, espíritos de todas as classes são providos de argumentos em que muitos deles nunca haviam pensado. Alguém terá de prestar contas por essa orientação desprovida de sabedoria.
Os argumentos contra a sagrada verdade, sutis em sua influência, afetam mentes que não estão bem informadas quanto à força da mesma. A sensibilidade moral da coletividade em geral acha-se embotada pela familiaridade com o pecado. O egoísmo, a desonestidade e os vários pecados que predominam nesta época degenerada têm embotado os sentidos para as coisas eternas, de maneira que a verdade de Deus não é discernida. Ao dar publicidade aos errôneos argumentos de nossos adversários, a verdade e o erro são postos ao mesmo nível, na mente do povo, ao passo que, se pudessem ter diante de si a verdade em sua clareza, com tempo suficiente para verem e avaliarem sua santidade e importância, ficariam convencidos dos fortes argumentos em seu favor e estariam então preparados para enfrentar os argumentos sobre que seus oponentes insistem.
Os que estão buscando conhecer a verdade e compreender a vontade de Deus, que são fiéis à luz e zelosos no cumprimento de seus deveres diários, hão de certamente conhecer a doutrina; pois serão guiados em toda a verdade. Deus não promete, pelos atos magistrais de Sua providência, trazer de modo irresistível pessoas ao conhecimento da verdade, quando elas não procuram a verdade e não têm desejo de conhecê-la. As pessoas têm o poder de extinguir o Espírito de Deus; o poder de escolha é deixado com elas. Deus lhes permite liberdade de ação. Elas podem ser obedientes mediante o nome e a graça de nosso Redentor, ou podem ser desobedientes e sofrer as conseqüências. O homem é responsável por receber ou rejeitar a verdade sagrada e eterna. O Espírito de Deus está continuamente convencendo, e pessoas estão decidindo a favor ou contra a verdade. O comportamento, as palavras e as ações do ministro de Cristo podem influenciar uma pessoa a favor ou contra a verdade. Quão importante é que cada ato da vida seja tal que não haja necessidade de arrepender-se dele. Isso é especialmente importante para os embaixadores de Cristo, que estão atuando no lugar de Cristo.
A autoridade da igreja
O Redentor do mundo conferiu grande poder à Sua igreja. Ele declara as regras a serem aplicadas em casos de demanda entre seus membros. Depois de dar orientações explícitas quanto à direção a seguir, diz: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu, e tudo [em matéria de disciplina da igreja] o que desligardes na Terra será desligado no Céu." Mateus 18:18. Assim até a autoridade celestial ratifica a disciplina da igreja com relação a seus membros, uma vez que tenha sido seguida a regra bíblica.
A Palavra de Deus não dá licença a que um homem ponha seu julgamento em oposição ao da igreja, nem lhe é permitido insistir em suas opiniões contrariamente às dela. Caso não houvesse disciplina e governo eclesiásticos, a igreja se esfacelaria; não poderia manter-se unida como um corpo. Sempre tem havido indivíduos de espírito independente, pretendendo estar certos e que Deus os havia ensinado, impressionado e guiado especialmente. Cada um tem uma teoria sua particular, idéias peculiarmente suas, e cada um pretende que essas idéias se acham em harmonia com a Palavra de Deus. Cada um tem diferente teoria e fé, e não obstante pretende cada um possuir luz especial de Deus. Essas pessoas separam-se da corporação, e constituem por si mesmas uma igreja à parte. Não podem estar todas certas, todavia pretendem todas ser guiadas pelo Senhor. A palavra da Inspiração não pode ser sim e não, mas sim e amém em Cristo Jesus.
Nosso Salvador acompanha Suas lições com a promessa de que, se dois ou três se unirem em pedir alguma coisa a Deus, isso lhes será feito. Cristo mostra aqui que deve haver união com outros, mesmo em nossos desejos por determinado objetivo. Grande importância é atribuída à oração feita em comum, à união de desígnios. Deus atende às orações dos indivíduos; nessa ocasião, porém, Jesus estava dando lições especiais e importantes, que deviam ser de particular influência na igreja que acabava de organizar na Terra. Deve haver acordo acerca das coisas que desejam, e pelas quais oram. Não simplesmente os pensamentos e esforços de uma só pessoa, sujeita a enganos; mas as petições devem constituir o veemente desejo de várias mentes concentradas em um ponto.
Na maravilhosa conversão de Paulo, vemos o miraculoso poder de Deus. Um clarão mais forte que o resplendor do Sol ao meio-dia o envolveu. Jesus, cujo nome ele aborrecia e desprezava acima de todos os outros, revelou-Se a Paulo a fim de deter-lhe a louca, se bem que sincera carreira, de modo que pudesse tornar esse instrumento nada promissor em um vaso escolhido para levar o evangelho aos gentios. Ele fizera conscienciosamente muitas coisas contrárias ao nome de Jesus de Nazaré. Em seu zelo, fora perseverante e ardoroso perseguidor da igreja de Cristo. Profundas e vigorosas eram suas convicções do dever de exterminar essa alarmante doutrina a predominar por toda parte de que Jesus era o Príncipe da Vida.
Paulo cria que a fé em Jesus tornava de nenhum efeito a lei de Deus, as ofertas sacrificais e o rito da circuncisão, que em todas as eras passadas recebera inteira sanção de Deus. A miraculosa revelação de Cristo, porém, faz-lhe penetrar a luz nos entenebrecidos recessos da mente. Jesus de Nazaré, contra quem ele está disposto, é verdadeiramente o Redentor do mundo.
Paulo vê seu errado zelo e exclama: "Senhor, que queres que faça?" Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus não lhe disse então e ali como poderia ter feito a obra que lhe destinara. Paulo devia receber instruções na fé cristã e agir com entendimento. Jesus o envia aos próprios discípulos a quem ele estivera perseguindo tão severamente, para que deles aprenda. A luz da iluminação celeste privara Paulo da vista, mas Jesus, o grande médico dos cegos, não lhe restaurou a vista. À pergunta de Paulo, responde da seguinte maneira: "Levanta-te, e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer." Atos dos Apóstolos 9:6. Jesus podia não somente haver curado Paulo da cegueira, mas haver-lhe perdoado os pecados e dito qual o seu dever, traçando-lhe o futuro caminho. De Cristo deviam fluir todas as misericórdias e todo o poder; no entanto, Ele não deu a Paulo, em sua conversão à verdade, uma experiência independente da igreja por Ele recentemente organizada na Terra.
A maravilhosa luz dada a Paulo naquela ocasião deixou-o pasmo e confuso. Rendeu-se inteiramente. Esta parte da obra não podia o homem fazer por Paulo; havia, no entanto, outra obra ainda a ser executada, a qual os servos de Cristo podiam efetuar. Jesus o encaminha a Seus instrumentos na igreja, em busca de mais esclarecimentos acerca de seu dever. Assim dá Ele autoridade e sanção à igreja organizada. Cristo fizera a obra de revelação e convicção, e agora Paulo se achava em condições de aprender daqueles a quem Deus ordenara que ensinassem a verdade. Cristo dirige Paulo aos servos que escolhera, pondo-o assim em contato com Sua igreja.
Os próprios homens a quem Paulo se estava propondo destruir deviam ser seus instrutores na própria religião que ele desprezara e perseguira. Paulo passou três dias sem alimentar-se e sem ver, preparando-se para se aproximar dos homens a quem, em seu zelo cego, propusera-se a destruir. Então Cristo põe Paulo em contato com Seus representantes na Terra. O Senhor dá a Ananias uma visão em que lhe manda ir a determinada casa em Damasco e perguntar por Saulo de Tarso; "pois eis que ele está orando". Atos dos Apóstolos 9:11.
Sendo Saulo enviado a Damasco, para lá foi guiado pelos homens que o acompanhavam no intuito de ajudá-lo a levar prisioneiros os discípulos para Jerusalém, a fim de ali serem julgados e mortos. Saulo hospedou-se na casa de Judas em Damasco, dedicando o tempo a jejum e oração. Ali foi provada a fé de Saulo. Por três dias se encontrou em trevas quanto ao que dele era requerido, e por três dias se viu privado da visão. Recebera ordem de ir para Damasco, pois ali lhe seria dito o que lhe cumpria fazer. Encontra-se em incerteza, e clama fervorosamente a Deus. Foi enviado um anjo a Ananias, instruindo-o a ir a determinada casa onde se achava Saulo em oração para que lhe fosse mostrado o que devia fazer. Desaparecera o orgulho de Saulo. Pouco antes, ele confiava em si mesmo, julgando achar-se empenhado em boa obra, pela qual deveria ser recompensado; agora, porém, tudo mudou. Está curvado e humilhado até ao pó, envergonhado e penitente, rogando fervorosamente o perdão. O Senhor por meio de Seu anjo disse a Ananias: "Eis que ele está orando." Atos dos Apóstolos 9:11. O anjo informou ao servo de Deus que havia revelado a Saulo em visão que um homem chamado Ananias entraria e poria sobre ele a mão, a fim de que tornasse a ver. Mal pode Ananias crer nas palavras do anjo; e repete o que ouvira acerca da cruel perseguição que Saulo fazia aos santos em Jerusalém. Imperativa, porém, é a ordem dada a Ananias: "Vai, porque este é para Mim um vaso escolhido para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel." Atos dos Apóstolos 9:15.
Ananias foi obediente às indicações do anjo. Pôs a mão sobre o homem que havia ainda tão pouco estava possuído do mais profundo ódio, respirando ameaças contra todos os que acreditavam no nome de Cristo. Ananias disse a Saulo: "Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado." Atos dos Apóstolos 9:17, 18.
Jesus poderia haver feito diretamente tudo isso por Paulo, mas não quis assim. Paulo tinha alguma coisa a fazer no sentido da confissão aos homens cuja destruição premeditara, e Deus tinha uma obra de responsabilidade para ser feita pelos homens a quem ordenara para agirem em Seu lugar. Paulo devia dar os passos necessários na conversão. Era-lhe exigido que se unisse ao próprio povo que perseguira por causa da religião que professavam. Cristo dá aqui a todo o Seu povo um exemplo de Sua maneira de agir para salvação dos homens. O Filho de Deus identificou-Se com a função e a autoridade de Sua igreja organizada. Suas bênçãos deviam vir por meio dos instrumentos que ordenara, ligando assim os homens com os condutos que as deviam transmitir. O fato de Paulo ser estritamente consciencioso em sua obra de perseguir os santos não o inocenta quando o Espírito de Deus o impressiona com o conhecimento da cruel obra que fizera. Tem de tornar-se aluno dos discípulos.
Reconhece que Jesus, a quem em sua cegueira considerara impostor, é na verdade o autor e o fundamento de toda a religião do povo escolhido de Deus desde os dias de Adão, e o consumador da fé, agora tão clara à sua iluminada visão. Viu a Cristo como reivindicador da verdade, cumpridor de todas as profecias. Cristo fora considerado como anulando a lei de Deus; mas, quando sua visão espiritual foi tocada pelo dedo divino, aprendeu dos discípulos que Cristo era o originador e o fundamento de todo o sistema judaico de sacrifícios, que na morte de Cristo o tipo encontrara o antítipo, e que Cristo viera ao mundo com o expresso desígnio de reivindicar a lei de Seu Pai.
Em face da lei, Paulo se reconhece pecador. Aquela própria lei que ele julgara estar guardando tão zelosamente, verifica ter estado a transgredir. Arrepende-se e morre para o pecado, torna-se obediente às reivindicações da lei de Deus e tem fé em Cristo como seu Salvador; é batizado e prega a Jesus tão sincera e zelosamente como outrora O condenara. São apresentados, na conversão de Paulo, importantes princípios que devemos conservar sempre em mente. O Redentor do mundo não aprova, em assuntos religiosos, idéias e práticas independentes por parte de Sua igreja organizada e reconhecida, onde Ele tem uma igreja.
Muitos nutrem a idéia de que só a Cristo são responsáveis no que respeita à luz e à própria experiência, independentemente de Seus reconhecidos seguidores no mundo. Isto, porém, é condenado por Ele nos ensinos que nos dá, bem como nos exemplos e nos fatos que nos tem dado para nossa instrução. Aí estava Paulo, pessoa a quem Cristo devia preparar para importantíssima obra, que Lhe devia ser vaso escolhido, levado diretamente à presença de Cristo; todavia, Ele não lhe ensina as lições da verdade. Detém-lhe a carreira e infunde-lhe convicção; e quando ele pergunta: "Que queres que eu faça?" (Atos dos Apóstolos 9:6), o Salvador não lhe diz diretamente, mas põe-no em contato com Sua igreja. Eles lhe dirão o que lhe cumpre fazer. Jesus é o amigo dos pecadores, tem o coração sempre aberto, sempre sensível aos sofrimentos da humanidade; tem todo o poder, tanto no Céu como na Terra; respeita, no entanto, o meio que ordenou para esclarecimento e salvação dos homens. Encaminha Saulo à igreja, reconhecendo assim o poder de que a investiu como veículo de luz para o mundo. É o corpo organizado de Cristo na Terra, e importa que se Lhe respeitem as ordenanças. No caso de Saulo, Ananias representa Cristo, ao mesmo tempo que representa os pastores de Cristo na Terra, os quais são designados para agir em Seu lugar.
Saulo era um mestre instruído em Israel; mas enquanto ele ainda estava sob a influência do erro cego e do preconceito, Cristo revelou-Se a ele, e então o pôs em comunicação com Sua igreja, que é a luz do mundo. Eles devem instruir este orador educado e popular na religião cristã. No lugar de Cristo, Ananias toca seus olhos para que recebesse visão; em lugar de Cristo impõe-lhe as mãos, ora em nome de Cristo, e Saulo recebe o Espírito Santo. Tudo é feito em nome e na autoridade de Cristo. Cristo é a fonte. A igreja é o canal de comunicação. Aqueles que se gabam de independência pessoal precisam ser trazidos a uma relação mais íntima com Cristo mediante ligação com Sua igreja sobre a Terra.
Irmão A, Deus o ama e deseja salvá-lo e pô-lo em condição de trabalhar. Se você for humilde e dócil, e for moldado por Seu Espírito, Ele será sua força, sua justiça e seu galardão supremo. Poderá realizar muito por seus irmãos se você se esconder em Deus e deixar que Seu Espírito abrande seu espírito. Você tem de enfrentar uma classe difícil. Estão cheios de preconceito amargo, mas não mais do que Saulo. Deus pode atuar poderosamente por seus irmãos, caso você não se intrometa e feche o próprio caminho. Permita que amor, compaixão e ternura habitem seu coração enquanto trabalha. Pode quebrar as paredes de ferro do preconceito se tão-somente se apegar a Cristo e estiver disposto a ser aconselhado por seus irmãos de mais experiência.
Você não deve, como servo de Deus, desanimar-se facilmente pelas dificuldades ou pela mais feroz oposição. Saia não em seu nome, mas no poder e força do Deus de Israel. Suporte aflições como bom soldado da cruz de Cristo. Jesus suportou a contradição dos pecadores contra Si mesmo. Considere a vida de Cristo e tome coragem, e avance pela fé, coragem e esperança.