Testemunhos para a Igreja, 4

Capítulo 7

Coobreiros de Cristo

O tempo decorrido durante e depois da reunião de tenda de 1874 foi de importância para _____. Caso houvesse cômoda e espaçosa casa de culto ali, mais do dobro das pessoas reunidas haveriam tomado decisão em favor da verdade. Deus atua com os nossos esforços. Por nossa negligência e egoísmo podemos fechar o caminho aos pecadores. Devia ter havido grande diligência em buscar salvar os que ainda estavam em erro, mas que se interessaram na verdade. Necessita-se no serviço de Cristo tão sábia liderança como nos batalhões de um exército que protege a vida e a liberdade do povo. Não é qualquer um que pode trabalhar criteriosamente pela salvação de almas. É preciso pensar muito rigorosamente. Importa que não entremos na obra do Senhor a esmo e esperemos sucesso. O Senhor necessita de homens de entendimento, homens que pensem. Jesus chama coobreiros, não desatinados. Deus quer homens de reto pensar e inteligentes para fazer a grande obra necessária para a salvação de almas.

Os mecânicos, advogados, comerciantes, homens de toda espécie de profissões e negócios se preparam a fim de se assenhorearem de seu trabalho. Enquanto professamente empenhados no serviço de Cristo, devem Seus seguidores ser menos inteligentes e ignorantes acerca dos métodos e recursos a serem empregados? O empreendimento de alcançar a vida eterna está acima de qualquer consideração terrena. Para conduzir almas a Jesus é preciso ter certo conhecimento da natureza humana e estudar a mente dos homens. Importa dedicarmos muita reflexão e fervorosa oração a fim de saber a melhor maneira de aproximar-nos de homens e mulheres no que respeita ao grande tema da verdade.

Algumas almas precipitadas, impulsivas, se bem que sinceras, depois de ouvirem incisivas pregações, abordarão os que não pertencem à nossa fé de maneira demasiado abrupta, tornando assim a verdade que desejamos vê-los aceitar repulsiva aos olhos deles. "Os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz." Lucas 16:8. Os homens de negócios e os políticos estudam cortesia. Faz parte de seu método tornarem-se tão atraentes quanto possível. Estudam a fim de tornarem seus discursos e maneiras tais que lhes proporcionem a máxima influência sobre a mente dos que os rodeiam. Para alcançar esse objetivo, empregam o mais habilmente possível seus conhecimentos e aptidões.

Grande é a quantidade de lixo acumulada por professos crentes em Cristo, o qual bloqueia o caminho para a cruz. Apesar de tudo isso, alguns há que ficam tão profundamente convictos, que superarão tudo o que desanime, transporão todo obstáculo a fim de chegar à verdade. Houvessem, porém, os crentes nessa verdade purificado a mente pela obediência à mesma, houvessem compreendido a importância do conhecimento e das boas maneiras na obra de Cristo, poder-se-iam haver salvo vinte almas onde se salvou apenas uma.

Além disso, depois de as pessoas terem se convertido à verdade, é necessário que sejam cuidadas. Parece que o zelo de muitos pastores esmorece assim que alcançam certa medida de êxito em seus esforços. Não compreendem que os novos conversos necessitam ser atendidos -- vigilante atenção, auxílio e animação. Não devem ser deixados a si mesmos, presa das mais fortes tentações de Satanás; eles precisam ser instruídos com relação a seus deveres, ser bondosamente tratados, conduzidos e visitados, orando-se com eles. Essas almas necessitam do alimento dado a seu tempo a cada ser humano.

Não admira que alguns desanimem, retardem-se pelo caminho e sejam deixados por presa aos lobos. Satanás se acha no encalço de todos. Ele envia seus agentes para levarem de volta a suas fileiras as almas que perdeu. Deve haver mais pais e mães para tomarem ao coração esses bebês na verdade, e animá-los e orar por eles para que sua fé não seja confundida.

Pregar é uma pequena parte da obra a ser feita pela salvação de almas. O Espírito de Deus convence os pecadores acerca da verdade, e os coloca nos braços da igreja. Os pastores podem fazer sua parte, mas nunca poderão efetuar a obra que deve ser feita pela igreja. Deus requer que a igreja cuide dos que são novos na fé e na experiência, que vá ter com eles, não no intuito de tagarelar com eles, mas de orar, de dirigir-lhes palavras que sejam "como maçãs de ouro em salvas de prata". Provérbios 25:11.

Todos nós necessitamos estudar o caráter e as maneiras, a fim de sabermos lidar adequadamente com as diferentes pessoas e usar os melhores esforços para ajudá-las a ter correta compreensão da Palavra de Deus, e chegar a uma genuína vida cristã. Devemos ler a Bíblia com elas, desviando-lhes a mente das coisas temporais para seus interesses eternos. É dever dos filhos de Deus serem-Lhe missionários, familiarizarem-se com os que precisam de auxílio. Se alguém está coxeando sob a tentação, seu caso deve ser considerado cuidadosamente e tratado com sabedoria; pois se acha em jogo seu interesse eterno, e as palavras e atos dos que estão trabalhando por ele podem ser um "cheiro de vida para vida", ou "de morte para morte". 2 Coríntios 2:16.

Apresenta-se por vezes um caso que deve ser tornado objeto de estudo apoiado por oração. É preciso mostrar-se à pessoa seu verdadeiro caráter, que ela compreenda as peculiaridades de disposição e temperamento que tem, e veja suas fraquezas. É mister lidar com ela criteriosamente. Caso seja acessível, se o coração se lhe comove por esse trabalho sábio e paciente, poderá ser ligada a Cristo por fortes laços, e levada a confiar em Deus. Oh! quando se faz uma obra assim, toda a corte celeste a contempla e se regozija; pois uma alma preciosa foi liberta dos laços do inimigo e salva da morte! Não valerá a pena trabalhar inteligentemente pela salvação de almas? Cristo pagou por elas o preço da própria vida, e hão de Seus seguidores perguntar: "Sou eu guardador do meu irmão?" Gênesis 4:9. Não trabalharemos em harmonia com o Mestre? Não apreciaremos o valor de almas por quem nosso Salvador morreu?

Têm-se feito alguns esforços para interessar as crianças na causa, mas não suficientemente. Nossas Escolas Sabatinas devem ser mais atrativas. As escolas públicas, nos últimos anos, aperfeiçoaram grandemente seus métodos de ensino. Lições práticas, gravuras e quadros-negros estão sendo usados a fim de esclarecer à mente das crianças as lições difíceis. Da mesma forma a verdade presente pode ser simplificada e tornada intensamente interessante à mente ativa das crianças.

Pais que de outro modo não seriam alcançados, são-no com freqüência por meio de seus filhos. Os professores da Escola Sabatina podem instruir as crianças na verdade, e essas, por sua vez, a levarão ao círculo doméstico. Poucos professores, no entanto, parecem compreender a importância desse ramo da obra. Os métodos de ensino com tanto êxito adotados nas escolas públicas podem ser empregados com idênticos resultados nas Escolas Sabatinas, sendo o meio de levar crianças a Jesus e educá-las na verdade bíblica. Isto fará incomparavelmente maior bem do que a promoção religiosa de caráter emocional, que passa tão prontamente como vem.

Importa nutrir o amor de Cristo. É preciso mais fé na obra que acreditamos deva ser feita antes da vinda de Jesus. Deve haver mais abnegação, mais esforço feito com sacrifício na devida direção. Importa também que haja atento estudo apoiado por oração quanto à maneira de trabalhar para obter os melhores resultados. Planos cuidadosos devem ser amadurecidos. Há entre nós mentes capazes de inventar e executar, se tão-somente forem exercitadas. Grandes seriam os resultados de esforços bem dirigidos e inteligentes.

As reuniões de oração devem ser as mais interessantes a serem realizadas; são muitas vezes, porém, fracamente dirigidas. Muitos assistem ao culto de pregação, mas negligenciam as reuniões de oração. Nisso também se exige reflexão. Precisamos buscar sabedoria de Deus, e fazer planos para dirigir essas reuniões de maneira a torná-las interessantes e atrativas. O povo tem fome do pão da vida. Se o encontrarem na reunião de oração, ali irão para recebê-lo.

Longas e fastidiosas palestras e orações são inadequadas em qualquer parte, e especialmente na reunião de oração. Os que são desinibidos e sempre prontos a falar, tomam a liberdade de sacrificar o testemunho dos tímidos e retraídos. Os mais superficiais têm, geralmente, mais a dizer. Longas e mecânicas são suas orações. Fatigam os anjos e as pessoas que os escutam. Nossas orações devem ser breves e diretas. Que as longas e enfadonhas petições fiquem para nosso aposento particular, caso alguém queira fazer alguma dessa espécie. Deixem que o Espírito de Deus lhes entre no coração, e Ele expelirá dali toda árida formalidade.

A música pode ser uma grande força para o bem; não aproveitamos, entretanto, ao máximo esse aspecto da adoração. O canto é feito em geral por impulso ou para atender a casos especiais, e outras vezes é permitido que os cantores continuem errando, e a música perde o devido efeito na mente dos presentes. A música deve ter beleza, suavidade e poder. Ergam-se as vozes em hinos de louvor e devoção. Utilizem em seu auxílio, se possível, a música instrumental, e deixem ascender a Deus a gloriosa harmonia, em oferta aceitável.

Mas, por vezes, é mais difícil disciplinar os cantores e mantê-los na devida ordem do que aperfeiçoar os hábitos de oração e exortação. Muitos querem fazer as coisas a seu próprio modo; fazem objeções aos conselhos e impacientam-se sob liderança. No serviço de Deus necessitam-se planos bem amadurecidos. O bom senso, eis uma coisa excelente na adoração ao Senhor. Devem-se consagrar a Cristo as faculdades do pensamento, idealizando-se métodos e recursos para servi-Lo melhor. A igreja de Deus, que está procurando fazer o bem vivendo a verdade e buscando salvar almas, pode ser uma força no mundo, caso seus membros sejam disciplinados pelo Espírito do Senhor. Não devem achar que podem trabalhar negligentemente para a eternidade.

Perdemos muito, como povo, por falta de simpatia e sociabilidade uns com os outros. O que fala de independência e se fecha em si mesmo não está preenchendo o lugar que lhe foi designado por Deus. Somos filhos de Deus, dependendo mutuamente uns dos outros quanto à felicidade. Impendem sobre nós os reclamos de Deus e da humanidade. Todos nós precisamos desempenhar nossa parte nesta vida. É o devido cultivo dos elementos sociais de nossa natureza que nos põe em simpatia com nossos irmãos e nos proporciona felicidade em nossos esforços por beneficiar os outros. A felicidade do Céu consistirá na pura comunhão de seres santos -- a harmoniosa vida social com os benditos anjos e com os remidos que lavaram seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro. Não nos podemos sentir felizes enquanto nos encerramos em nossos próprios interesses. Devemos viver neste mundo para ganhar almas para o Salvador. Se ofendemos os outros, prejudicamos a nós mesmos. Se os beneficiamos, somos nós mesmos beneficiados; pois a influência de toda boa ação se reflete em nosso próprio coração.

Estamos no dever de ajudar-nos uns aos outros. Nem sempre nos pomos em contato com cristãos sociáveis, que sejam amáveis e moderados. Muitos não receberam a devida educação; seu caráter é pervertido, cruel e áspero, e parece ser falso em todos os sentidos. Ao passo que ajudamos essas pessoas a reconhecerem seus defeitos, é preciso termos cautela para não nos impacientar e irritar com as faltas de nossos semelhantes. Há pessoas desagradáveis que professam a Cristo; a beleza da graça cristã, no entanto, transformá-las-á, caso se empenhem diligentemente na obra de obter a mansidão e a gentileza dAquele a quem seguem, lembrando-se de que "nenhum de nós vive para si". Romanos 14:7. Coobreiros de Cristo! Que exaltada posição! Onde se encontrarão os missionários abnegados nessas grandes cidades? O Senhor necessita de obreiros em Sua vinha. Devemos temer privá-Lo do tempo que Ele de nós reclama; temer gastá-lo ociosamente ou em adorno do corpo, aplicando a extravagantes desígnios as horas preciosas que nos são dadas por Deus a fim de as consagrarmos à oração, a nos familiarizarmos com a Bíblia e a trabalhar pelo bem de nossos semelhantes, assim habilitando a nós e a eles para a grande obra que sobre nós está.

As mães dão-se a trabalho desnecessário com roupas para embelezarem a si próprias e a seus filhos. É nosso dever trajar-nos de maneira simples, e vestir os filhos com asseio, sem ornamentos desnecessários, bordados ou exibições, cuidando em não fomentar neles o amor do vestuário que se lhes demonstrará uma ruína, antes buscando cultivar as virtudes cristãs. Nenhum de nós pode ser isento de suas responsabilidades, e de maneira alguma podemos estar sem culpa diante do trono de Deus, a menos que realizemos a obra que o Senhor nos deixou para fazer.

Precisam-se missionários para Deus, homens e mulheres fiéis que não se eximam às responsabilidades. O trabalho feito criteriosamente dará bons resultados. Há verdadeiro trabalho a ser feito. A verdade deve ser levada de forma cuidadosa perante o povo por aqueles que aliam a mansidão à sabedoria. Não nos devemos manter afastados de nossos semelhantes, antes aproximar-nos bem deles; pois sua alma é tão preciosa quanto a nossa. É-nos possível levar-lhes a luz aos lares, pleitear com eles num espírito manso e submisso a Deus para que se elevem ao exaltado privilégio que lhes é oferecido, orar com eles quando parecer oportuno e mostrar-lhes que podem atingir as mais altas realizações, falando-lhes então prudentemente das sagradas verdades para estes últimos dias.

Há entre nosso povo mais reuniões para cantar do que para orar; mas mesmo essas reuniões podem ser dirigidas de maneira tão reverente e todavia tão animada, que possam exercer benéfica influência. Há, porém, demasiado gracejar, conversas ociosas e tagarelice para que esses períodos se tornem salutares, elevando os pensamentos e aperfeiçoando as maneiras.

Reavivamentos sensacionalistas

Os interesses em _____ têm estado muito divididos. Ao surgir uma novidade, alguns exercem sua influência em sentido errôneo. Todo homem e toda mulher devem estar alertas quando se espalham enganos destinados a desviar da verdade. Há pessoas sempre prontas a ver e ouvir qualquer coisa nova e estranha; e o inimigo das almas tem nessas grandes cidades muita coisa com que inflamar a curiosidade e manter a mente distraída das grandes e santificadoras verdades para estes últimos dias.

Se todo fervor religioso que paira no ar leva alguns a negligenciarem prestar inteiro apoio, seja pela sua presença, seja pela influência exercida, à minoria que crê na verdade impopular, haverá na igreja muita fraqueza, onde deve haver força. Satanás emprega vários meios para conseguir seus fins; e, se sob o disfarce de religião popular, ele puder desviar pessoas vacilantes e incautas da senda da verdade, muito haverá conseguido quanto a dividir a força do povo de Deus. Esse instável entusiasmo de reavivamento, que vem e vai como a maré, apresenta um exterior ilusório que engana muitas pessoas sinceras, levando-as a crer que seja o verdadeiro Espírito do Senhor. Isso multiplica os conversos. Os de natureza agitada, os fracos e fáceis de ser levados, ajuntam-se em torno de sua bandeira; ao retroceder a onda, no entanto, encontram-se como náufragos na praia. Não sejam eles iludidos por falsos mestres, nem levados por palavras vãs. O inimigo das almas por certo terá suficientes iguarias de fábulas aprazíveis adequadas ao paladar de todos.

Sempre surgirão meteoros flamejantes; mas a esteira luminosa que deixam imediatamente se dissipa, ficando após uma escuridão que parece mais densa que a anterior. Essas manifestações religiosas sensacionais criadas pela narração de anedotas e exibições de excentricidades e singularidades são todas obras superficiais. Os de nossa fé que estão encantados e fascinados por esses lampejos nunca edificarão a causa de Deus. Estão prontos a retirar sua influência ao mais leve motivo, e a induzir outros a assistirem àquelas reuniões onde ouvem o que enfraquece a alma e traz confusão à mente. É o retirar assim o interesse da obra que faz com que a causa de Deus enfraqueça. Precisamos estar firmes na fé; ser inabaláveis. Temos diante de nós a obra que nos cabe realizar -- fazer com que a luz da verdade, tal como se revela na lei de Deus, brilhe sobre outros para desviá-los das trevas. Essa obra requer decidida e perseverante energia e um firme propósito de vencer.

Alguns há na igreja que precisam firmar-se às colunas de nossa fé, aprofundar-se e encontrar um fundamento sólido, em vez de vacilar na superfície da agitação, agindo por impulsos. Há na igreja dispépticos espirituais. Fazem de si mesmos inválidos; sua debilidade espiritual é resultado da própria conduta instável. São atirados daqui para lá, pelos mutáveis ventos de doutrina, ficando freqüentemente confusos e lançados na incerteza por serem inteiramente movidos pelo sentimento. São cristãos sensacionalistas, sempre sedentos de alguma coisa nova e diferente; doutrinas estranhas confundem sua fé e eles são inúteis à causa da verdade.

Deus pede homens e mulheres estáveis, de propósitos firmes, nos quais se possa confiar em tempos de perigo e provação, tão firmemente arraigados e fundados na verdade como as colinas eternas, que não sejam movidos para a direita nem para a esquerda, mas que marchem sempre avante e se encontrem sempre no lado certo. Alguns há que em tempos de perigo religioso quase sempre podem ser procurados nas fileiras do inimigo; se alguma influência exercem, é do lado errado. Não se sentem sob a obrigação moral de dar toda a força à verdade que professam. Esses serão recompensados segundo suas obras.

Os que pouco fazem pelo Salvador para a salvação de almas e em se manterem retos diante de Deus não adquirem muita fibra espiritual. Precisamos empregar continuamente a força que possuímos a fim de que esta se desenvolva e aumente. Como a doença é o resultado da violação das leis naturais, assim é o declínio espiritual resultante de contínua transgressão da lei de Deus. E todavia os próprios transgressores podem professar guardar todos os mandamentos divinos.

Precisamos, para conservar-nos espiritualmente sãos, aproximar-nos mais de Deus, pôr-nos em mais íntima ligação com o Céu e seguir os princípios da lei nas mínimas ações de nossa vida diária. Deus deu a Seus servos aptidões, talentos a serem usados para Sua glória, e não para jazerem inativos ou serem desperdiçados. Ele lhes deu luz e conhecimento de Sua vontade para que fossem comunicados a outros; e assim fazendo, tornamo-nos vivos condutos de luz. Uma vez que não exercitemos nossa força espiritual, tornamo-nos fracos, da mesma maneira que os membros do corpo se debilitam quando o enfermo é forçado a permanecer por longo tempo inativo. É a atividade que vitaliza.

Coisa alguma dará maior resistência espiritual e mais acréscimo de fervor e profundidade de sentir do que visitar e servir os doentes e desanimados, ajudando-os a verem a luz e a firmarem em Jesus a sua fé. Há deveres desagradáveis a serem cumpridos por alguém, do contrário almas serão deixadas a perecer. Os cristãos encontrarão bênçãos em cumprir esses deveres, por desagradáveis que sejam. Cristo empreendeu a penosa tarefa de vir da morada da pureza e glória para viver, como homem entre os homens, em um mundo cauterizado e enegrecido por crime, violência e iniqüidade. E fez isto para salvar almas; hão de os objetos de tão surpreendente amor e incomparável condescendência justificar sua vida de comodidade egoísta? Buscarão o próprio prazer, seguirão suas inclinações e deixarão as almas perecerem nas trevas pelo fato de terem de enfrentar decepções e contrariedades se trabalharem para salvá-las? Cristo pagou preço infinito pela redenção do homem, e há de este dizer: "Meu Senhor, não quero trabalhar em Tua vinha; 'rogo-Te que me hajas por escusado'"? Lucas 14:18.

Deus chama os que estão ociosos em Sião a que se levantem e atuem. Não darão eles ouvidos à voz do Mestre? Ele quer obreiros de oração, fiéis, que semeiem "junto a todas as águas". Isaías 32:20. Os que assim trabalham ficarão surpresos ao verificar que as provas, suportadas resolutamente em nome e na força de Jesus, darão firmeza à fé e renovarão o ânimo. No caminho da obediência humilde, encontram-se segurança e poder, conforto e esperança; a recompensa, porém, será finalmente perdida pelos que nada fazem por Jesus. As mãos fracas serão incapazes de agarrar-se ao Poderoso, os joelhos débeis deixarão de servir de sustentáculos no dia da adversidade. Os obreiros bíblicos e obreiros cristãos receberão a gloriosa recompensa e ouvirão o: "Bem está, servo bom e fiel. ... Entra no gozo do teu Senhor." Mateus 25:21.

Retenção de recursos

A bênção de Deus repousará sobre os que em _____ têm a causa de Cristo no coração. As ofertas voluntárias de nossos irmãos e irmãs, feitas com fé e amor para com o Redentor crucificado, lhes trarão bênçãos em troca; pois Deus observa e Se lembra de todo ato de liberalidade por parte de Seus santos. Ao preparar uma casa de adoração, importa haver grande exercício de fé e confiança em Deus. Nas transações comerciais, os que não arriscam nada, pouco progresso fazem; por que não ter fé também em um empreendimento para Deus e investir em Sua causa?

Quando pobres, alguns são generosos com o pouco que possuem; ao adquirirem propriedades, porém, tornam-se mesquinhos. O motivo de terem tão pouca fé é não se manterem avançando à medida que prosperam, e darem à causa de Deus ainda que seja com sacrifício.

No sistema judaico exigia-se mostrar beneficência para com o Senhor em primeiro lugar. Na colheita e na vindima, os primeiros frutos do campo -- o grão, o vinho e o azeite -- deviam ser consagrados em oferta ao Senhor. As respigas e os cantos dos campos eram reservados para os pobres. Nosso benévolo Pai celeste não negligenciou as necessidades do pobre. Os primeiros frutos da lã, ao serem tosquiadas as ovelhas, e dos cereais, quando o trigo era trilhado, deviam ser oferecidos ao Senhor; e fora ordenado que os pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros fossem convidados para seus banquetes. Ao fim de cada ano, exigia-se de todos que fizessem solene juramento quanto a haverem ou não agido segundo o mandamento de Deus.

Essa medida foi tomada pelo Senhor a fim de gravar no povo a idéia de que, em tudo, Ele devia ser o primeiro. Mediante esse sistema de beneficência deviam ter em mente que seu benévolo Senhor era o verdadeiro proprietário dos campos, rebanhos e gados que tinham em seu poder; que o Deus do Céu lhes enviava o sol e a chuva para a sementeira e a sega, e que tudo quanto possuíam era de Sua criação. Tudo era do Senhor, e Ele os fizera mordomos de Seus bens.

A liberalidade dos judeus na construção do tabernáculo e na construção do templo mostra um espírito de beneficência não igualado pelos cristãos de qualquer época posterior. Eles acabavam de ser libertados de sua longa servidão no Egito, e andavam errantes no deserto; todavia, mal foram livrados dos exércitos egípcios que os perseguiam em sua precipitada viagem, veio a Moisés a palavra do Senhor, dizendo: "Fala aos filhos de Israel que Me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta alçada." Êxodo 25:2.

Seu povo possuía poucos bens, e não eram lisonjeiras as perspectivas de aumentá-los; tinham, porém, um objetivo diante de si -- construir um tabernáculo para Deus. O Senhor falara, e deviam obedecer-Lhe à voz. Não retiveram nada. Todos deram com espírito voluntário, não determinada porção de suas posses, mas grande quantidade do que tinham. Devotaram-no voluntária e alegremente ao Senhor, e foram-Lhe agradáveis assim fazendo. Não Lhe pertencia tudo? Não lhes havia Ele dado tudo quanto tinham? Se Ele o pedia, não era seu dever devolver-Lhe o que era Seu?

Não foi preciso insistência. O povo levou ainda mais do que foi solicitado, sendo-lhes dito que parassem, pois já havia mais do que podiam empregar. Outra vez, ao construírem o templo, o pedido de recursos encontrou corações voluntários em corresponder. Não deram com relutância. Regozijavam-se na perspectiva da construção de um edifício para adoração a Deus, e deram mais do que o necessário para esse desígnio. Davi bendisse o Senhor diante de toda a congregação, e disse: "Porque, quem sou eu, e quem é o meu povo, que tivéssemos poder para tão voluntariamente dar semelhantes coisas? Porque tudo vem de Ti, e da Tua mão To damos." 1 Crônicas 29:14. Noutra parte de sua oração, Davi deu graças nestas palavras: "Senhor, Deus nosso, toda esta abundância que preparamos, para Te edificar uma casa ao Teu santo nome, vem da Tua mão, e é toda Tua." 1 Crônicas 29:16.

Davi compreendia bem de onde lhe vinha toda a abundância. Quem dera que o povo de hoje, que se regozija no amor do Salvador, compreendesse que a prata e o ouro que possuem são do Senhor e devem ser usados de modo a glorificá-Lo, e não retendo-os de má vontade, para enriquecerem e satisfazerem a si mesmos! Ele tem inquestionável direito a tudo quanto emprestou a Suas criaturas. Tudo quanto possuem é dEle.

Há elevados e santos objetivos que exigem recursos; e o dinheiro assim empregado proporcionará ao doador mais elevada e permanente alegria do que se fosse usado em satisfação pessoal ou amontoado egoistamente por ganância de lucro. Quando Deus pede nosso tesouro, seja qual for a importância, a resposta voluntária torna a dádiva uma oferta consagrada a Ele, e deposita no Céu, para o doador, um tesouro que nem a traça nem o fogo consomem, nem os ladrões minam e roubam. É um depósito seguro. O dinheiro é colocado em bolsas que não se rompem; está em segurança.

Podem os cristãos, que se gabam de ter mais luz que os hebreus, dar menos do que eles? Podem os cristãos que vivem próximo ao fim do tempo ficar satisfeitos com suas ofertas, quando não são a metade do que eram as dos judeus? A liberalidade deles devia beneficiar a própria nação; a obra nestes últimos dias abrange o mundo inteiro. A mensagem da verdade deve ir a todas as nações, línguas e povos; suas publicações, impressas em muitas línguas, devem ser espalhadas por toda a parte, como as folhas do outono.

Está escrito: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento." 1 Pedro 4:1. E noutro lugar: "Aquele que diz que está nEle também deve andar como Ele andou." 1 João 2:6. Indaguemos: Que faria nosso Salvador em nossas circunstâncias? Quais seriam Seus esforços pela salvação de almas? Esta pergunta é respondida pelo exemplo de Cristo. Ele deixou Sua realeza, pôs de lado a glória que O circundava, sacrificou as riquezas que possuía e revestiu Sua divindade da humanidade a fim de alcançar o homem onde ele se achava. Seu exemplo nos mostra que Ele deu a vida pelos pecadores.

Satanás disse a Eva que um elevado estado de felicidade poderia ser alcançado mediante a satisfação do apetite desenfreado; a promessa de Deus ao homem, entretanto, é mediante a negação do próprio eu. Quando sobre a vergonhosa cruz, Cristo, em agonia, sofria pela redenção do homem, foi exaltada a natureza humana. Unicamente pela cruz pode a família humana ser elevada à ligação com o Céu. A abnegação e cruzes se nos deparam a cada passo em nossa jornada rumo ao Céu.

O espírito de liberalidade é o espírito do Céu; o espírito de egoísmo, o de Satanás. O amor abnegado de Cristo revela-se na cruz. Ele deu tudo quanto tinha, e depois deu a Si mesmo, para que o homem fosse salvo. A cruz de Cristo é um apelo à beneficência de todo discípulo do bendito Salvador. O princípio aí exemplificado é dar, dar. Isto, realizado em verdadeira beneficência e boas obras, é o legítimo fruto da vida cristã. O princípio dos mundanos é adquirir, adquirir, e assim esperam assegurar a felicidade; levado a efeito em todos os sentidos, porém, o fruto desse princípio é miséria e morte.

Levar a verdade a todos os habitantes da Terra, salvá-los da culpa e da indiferença, eis a missão dos seguidores de Cristo. Os homens precisam possuir a verdade, a fim de por ela serem santificados, e nós somos os condutos da luz de Deus. Nossos talentos, recursos e conhecimento não se destinam apenas para nosso benefício; devem ser empregados para a salvação de almas, a fim de erguer o homem de sua vida de pecado e, mediante Cristo, levá-lo ao infinito Deus.

Devemos ser obreiros zelosos nesta causa, buscando levar os pecadores contritos e crentes ao divino Redentor, impressionando-os com exaltado senso do amor de Deus para com o homem. "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16. Que incomparável amor! Assunto para a mais profunda meditação! O surpreendente amor de Deus por um mundo que não O amou! Esse pensamento exerce poder subjugante sobre a alma, e leva a mente cativa à vontade de Deus. Homens loucos por ganho, decepcionados e infelizes em sua perseguição do mundo, necessitam dessa verdade a fim de acalmarem a inquietante fome e sede de sua alma.

Precisam-se, em sua grande cidade, missionários para Deus, a fim de levarem a luz aos que se acham "assentados na... sombra da morte". Mateus 4:16. Necessita-se de mãos experientes que, na mansidão da sabedoria e na força da fé, ergam as almas cansadas ao peito do compassivo Redentor. Oh! o egoísmo! Que maldição! Ele nos impede de empenhar-nos no serviço de Deus. Impede-nos de perceber os reclamos do dever, os quais nos devem inflamar o coração de fervoroso zelo. Todas as nossas energias devem ser voltadas para a obediência a Cristo. Dividir nosso interesse com os dirigentes do erro é ajudar o lado errado e dar vantagem a nossos inimigos. A verdade divina desconhece a transigência com o pecado, a ligação com a astúcia, a aliança com a transgressão. São necessários soldados que sempre respondam à chamada e estejam prontos para ação imediata; não os que, quando deles se necessita, encontram-se auxiliando o inimigo.

Grande é nossa obra. Há, todavia, muitos que professam crer nessas verdades sagradas que se acham paralisados pelos enganos de Satanás, e não estão fazendo nada em favor, antes em prejuízo da causa de Deus. Quando procederão eles como os que esperam pelo Senhor? Quando mostrarão zelo em harmonia com sua fé? Muitas pessoas retêm egoistamente os recursos de que dispõem e acalmam a consciência com a idéia de fazerem alguma coisa pela causa do Senhor depois de sua morte. Fazem testamento doando grande importância à igreja e aos vários ramos de atividade da mesma, e depois sossegam com o pensamento de que fizeram tudo quanto deles é exigido. Onde negaram o próprio eu por esse ato? Ao contrário, manifestaram a verdadeira essência do egoísmo. Quando não mais podem usar o dinheiro, propõem-se a dá-lo a Deus. Retê-lo-ão, porém, enquanto puderem, até que sejam compelidos a abandoná-lo por meio de um mensageiro a quem não podem deter.

Tal testamento é prova de verdadeira cobiça. Deus nos fez a todos mordomos Seus, e em caso algum nos autorizou a negligenciar o dever, ou deixar a outros seu cumprimento. O pedido de recursos para levar avante a causa da verdade jamais será mais urgente que agora. Nosso dinheiro nunca há de fazer maior soma de bem do que no tempo atual. Cada dia de demora em aplicá-lo devidamente limita o período em que ele será útil em salvar almas. Se delegamos a outros fazer aquilo que Deus pretendia que fizéssemos, prejudicamos a nós e Àquele que nos deu tudo quanto possuímos. Como podem outros fazer nossa obra de beneficência melhor do que a podemos fazer nós mesmos? Deus gostaria que todo homem fosse, durante sua existência, o executor do próprio testamento a esse respeito. A adversidade, um acidente, intrigas, poderão impedir para sempre premeditados atos de beneficência, quando o que acumulou a fortuna já não ali está para a proteger. É de lamentar que tantas pessoas negligenciem a áurea oportunidade presente para fazerem o bem, e esperem ser destituídas de sua mordomia antes de devolver ao Senhor os recursos que lhes emprestou para Sua glória.

Um dos notáveis aspectos dos ensinos de Cristo é a freqüência e veemência com que Ele repreendia o pecado da avareza e indicava o perigo das aquisições deste mundo e do excessivo amor ao ganho. Nas mansões dos ricos, no templo e nas ruas, Ele advertia aqueles que indagavam acerca da salvação: "Acautelai-vos e guardai-vos da avareza." Lucas 12:15. "Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mateus 6:24; Lucas 16:13.

É essa crescente dedicação a ganhar dinheiro -- o egoísmo que o desejo de ganho produz -- que remove da igreja o favor de Deus, e lhe amortece a espiritualidade. Quando a cabeça e as mãos se ocupam continuamente em planejar e labutar para acúmulo de riquezas, esquecem-se os reclamos de Deus e da humanidade. Caso Deus nos haja abençoado com prosperidade, não é justo que nosso tempo e atenção sejam desviados dEle e empregados naquilo que Ele nos emprestou. O doador é maior que a dádiva. Não somos de nós mesmos; fomos "comprados por preço". 1 Coríntios 6:20. Acaso esquecemos esse preço infinito pago por nossa redenção? Morreu acaso no coração o reconhecimento? A cruz de Cristo não torna vergonhosa a vida de comodidade e satisfação egoístas?

Que seria se Jesus, cansado da ingratidão e dos maus-tratos que se Lhe deparavam de todo lado, houvesse renunciado a Sua obra! Que seria, se Ele nunca houvesse chegado ao ponto em que pudesse dizer: "Está consumado!" João 19:30. E se houvesse voltado ao Céu, desanimado pela recepção que Lhe fizeram! Que seria, se Ele nunca houvesse passado por aquela angústia de alma no jardim do Getsêmani, angústia que Lhe forçou através dos poros aquelas grandes gotas de sangue!

Em Seu serviço pela redenção da humanidade, Cristo foi influenciado por um amor sem igual, e pela consagração à vontade de Seu Pai. Labutou pelo bem do homem até à própria hora de Sua humilhação. Passou a vida na pobreza e abnegação em favor do degradado pecador. Não teve, no mundo que era Seu, um lugar em que repousar a cansada cabeça. Estamos a colher os frutos desse infinito sacrifício; todavia, ao haver trabalho para fazer, ao ser necessário nosso dinheiro para ajudar a obra do Redentor na salvação de almas, recuamos do dever e pedimos que sejamos desculpados. Vil negligência, indiferença descuidosa e ímpio egoísmo nos cerram os sentidos aos reclamos de Deus.

Oh! importa que Cristo, a Majestade do Céu, o Rei da glória, carregue a pesada cruz, use a coroa de espinhos e beba o cálice de amargura, enquanto nós nos reclinamos comodamente, glorificando a nós mesmos e esquecendo as almas por cuja redenção Ele morreu, vertendo o precioso sangue? Não; demos enquanto podemos fazê-lo. Façamos enquanto temos forças. Trabalhemos enquanto é dia. Consagremos tempo e dinheiro ao serviço de Deus, para que Lhe tenhamos a aprovação e recebamos a recompensa.