Testemunhos para a Igreja, 6

Capítulo 35

A Obra Médico-Missionária e a Terceira Mensagem Angélica

Tenho sido repetidamente instruída quanto ao fato de que a relação da obra médico-missionária com a obra da terceira mensagem angélica é a mesma relação que o corpo mantém com o braço e a mão. Sob a direção da divina Cabeça, devem trabalhar unidos no preparar o caminho para a vinda de Cristo. O braço direito do corpo da verdade deve estar constantemente ativo, trabalhando incessantemente, e Deus o fortalecerá. Não deve, porém, tornar-se o corpo. Ao mesmo tempo o corpo não deve dizer ao braço: "Não tenho necessidade de ti." 1 Coríntios 12:21. O corpo necessita do braço a fim de fazer obra ativa e intensiva. Ambos têm seu trabalho designado, e ambos sofrerão grande prejuízo caso operem independentemente um do outro.

A obra de pregar a terceira mensagem angélica não tem sido considerada por alguns como Deus designa que seja. Tem sido olhada como trabalho inferior, quando deve ocupar lugar importante entre os instrumentos humanos na salvação do homem. O espírito dos homens deve ser atraído para as Escrituras como o meio mais eficaz na salvação de almas, e o ministério da palavra é a grande força educacional para produzir tal resultado. Os que rebaixam o ministério e procuram levar avante a obra médico-missionária independentemente estão buscando separar o braço do corpo. Qual seria o resultado, caso fossem eles bem-sucedidos nisso? Veríamos braços e mãos voando de um lado para outro dispensando meios, sem ser dirigidos pela cabeça. O trabalho tornar-se-ia desproporcionado e carente de equilíbrio. Aquilo que Deus designou que fosse o braço e a mão, tomaria o lugar do corpo todo e o ministério seria amesquinhado ou totalmente passado por alto. Isso causaria perturbação e confusão, ficando muitas partes da vinha do Senhor sem serem alcançadas.

A obra médico-missionária deve fazer parte do trabalho de toda igreja em todos os lugares. Desligada da igreja, ela se tornaria em breve uma estranha miscelânea de desorganizados átomos. Consumiria, mas não produziria. Em vez de servir de mão auxiliadora de Deus para promover a verdade, sugaria a vida e a força da igreja, e enfraqueceria a mensagem. Conduzida independentemente, não somente consumiria talento e meios necessários em outros ramos como, no próprio trabalho de ajudar os desamparados independentemente do ministério da Palavra, colocaria os homens em situação de zombarem de uma verdade bíblica.

O ministério evangélico é necessário a fim de dar permanência e estabilidade à obra médico-missionária; e o ministério necessita da obra médico-missionária para demonstrar a operação prática do evangelho. Nenhuma das duas partes da obra é completa sem a outra.

A mensagem da próxima vinda do Salvador deve ser dada em todas as partes do mundo, devendo em todos os setores ser caracterizada por solene dignidade. Grande é a vinha a ser trabalhada e o sábio agricultor fará a obra de tal maneira que cada parte produza frutos. Caso sejam conservados puros os vivos princípios da verdade na obra médico-missionária, não contaminados por qualquer coisa que lhes prejudique o brilho, o Senhor há de presidir o trabalho. Caso os que têm os pesados encargos permaneçam fiéis e firmes aos princípios da verdade, o Senhor os apoiará e susterá.

A união que deve existir entre a obra médico-missionária e o ministério é claramente salientada no capítulo cinqüenta e oito de Isaías. Há sabedoria e bênção para os que se empenharem na obra segundo é ali apresentada. Esse capítulo é explícito, e nele há o suficiente para esclarecer quem quer que deseje fazer a vontade de Deus. Apresenta grande oportunidade para que a humanidade sofredora seja ajudada, e seja ao mesmo tempo instrumento nas mãos de Deus para levar a luz da verdade a um mundo agonizante. Se a obra da terceira mensagem angélica for levada avante pela maneira certa, não se dará ao ministério um lugar inferior, nem os doentes e pobres serão negligenciados. Deus uniu em Sua Palavra esses dois ramos de trabalho, e pessoa alguma os deveria separar.

Pode haver, e há de fato, perigo em perder de vista os grandes princípios da verdade, ao realizar em benefício dos pobres a obra que é justo fazer, mas devemos ter sempre em mente que, ao fazer esse trabalho, cumpre dar o primeiro lugar às necessidades espirituais do ser humano. Em nossos esforços para aliviar as necessidades temporais, corremos o risco de separar da última mensagem evangélica seus aspectos principais e mais urgentes. Tal como tem sido feita em alguns lugares, a obra médico-missionária tem absorvido talento e meios que caberiam a outros ramos da obra, com negligência de atividades mais diretamente espirituais.

Devido às sempre crescentes oportunidades para ministrar às necessidades temporais de todas as classes, há perigo de essa obra eclipsar a mensagem que Deus nos deu para levar a toda cidade -- a proclamação da próxima vinda de Cristo, a necessidade de obediência aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Jesus. Essa mensagem é a preocupação de nossa obra. Tem de ser proclamada com grande voz e ir a todo o mundo. Tanto no campo nacional como nos estrangeiros, a apresentação dos princípios da saúde precisa estar unida com ela e não ser independente dela ou tomar-lhe de qualquer maneira o lugar; tampouco deve ela absorver tanta atenção que amesquinhe outros ramos. O Senhor nos instruiu a que consideremos a obra em todos os seus aspectos, de modo que se desenvolva de forma proporcional, simétrica e equilibrada.

A verdade para este tempo abrange todo o evangelho. Devidamente apresentada, ela operará no ser humano as adequadas mudanças que manifestarão o poder da graça de Deus no coração. Efetuará uma obra completa, e desenvolverá um completo homem. Portanto, não se trace uma linha divisória entre a genuína obra médico-missionária e o ministério evangélico. Unam-se essas duas para fazer o convite: "Vinde; pois tudo está preparado." Lucas 14:17. Juntem-se elas em inseparável união, da mesma forma como o braço está unido ao corpo.

Obreiros médico-missionários

O Senhor necessita todos os tipos de obreiros hábeis. "E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." Efésios 4:11-13.

Todo filho de Deus deve ter um santificado discernimento para considerar a causa como um todo, e a relação de cada parte para com cada uma das demais, a fim de que nenhuma falte. Vasto é o campo, e há uma grande obra de reforma a ser desenvolvida, não em um ou dois ramos, mas em toda linha. A obra médico-missionária é uma parte dessa obra de reforma, mas não deveria jamais se tornar um meio de separar os obreiros do ministério de seu campo de trabalho. A educação de alunos nos ramos médico-missionários não se acha completa a menos que eles estejam preparados para trabalhar em ligação com a igreja e o ministério, e a utilidade dos que se acham em preparo para o ministério seria grandemente aumentada caso eles se tornassem esclarecidos acerca do grande e importante assunto da saúde. A influência do Espírito Santo é necessária para que a obra seja devidamente equilibrada, e possa avançar vigorosamente em todo sentido.

"Uni-vos"

A obra do Senhor é uma, e um deve ser o Seu povo. Ele não deu instruções para que algum aspecto da mensagem fosse levado avante independentemente ou se tornasse absoluto. Em todos os Seus labores, Ele uniu a obra médico-missionária com o ministério da Palavra. Enviou os doze apóstolos, e posteriormente os setenta, a fim de pregar o evangelho ao povo, e deu-lhes poder também para curar os doentes e expulsar os demônios em Seu nome. Assim devem os mensageiros do Senhor entrar hoje na obra. Chega até nós hoje a mensagem: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós. E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo." João 20:21, 22.

Satanás inventará todo meio possível para separar aqueles a quem Deus está tentando unir. Não devemos, porém, ser enganados por seus ardis. Caso a obra médico-missionária seja desenvolvida como parte do evangelho, os de fora verão o bem que se está fazendo; ficarão convencidos de sua genuinidade, e lhe darão seu apoio.

Aproximamo-nos do fim da história terrestre, e Deus convida todos a erguerem o estandarte com a inscrição: "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus." Apocalipse 14:12. Convida Seu povo a trabalhar em perfeita harmonia. Convida os que se acham empenhados na obra médico-missionária a se unirem com o ministério; convida o ministério a cooperar com os obreiros médico-missionários; e convida a igreja a cumprir o dever que lhe é designado, mantendo alto o padrão da verdadeira reforma em seu território, permitindo que os obreiros preparados e experientes avancem para novos campos. Palavra alguma deve ser proferida para desanimar ninguém, pois isso entristece o coração de Cristo e agrada grandemente o adversário. Todos precisam ser batizados com o Espírito Santo; todos devem se refrear quanto a fazer censuras e observações pejorativas, e devem se aproximar de Cristo a fim de apreciarem as pesadas responsabilidades que os coobreiros dEle têm sobre os ombros. "Uni-vos, uni-vos" são as palavras de nosso divino Instrutor. União é força; desunião é fraqueza e derrota.

Em nosso trabalho em prol dos pobres e desafortunados, precisaremos cuidar para que não assumamos responsabilidades para as quais não somos capazes. Antes de adotar planos e métodos que exijam grandes gastos, cumpre-nos considerar se eles trazem a aprovação divina. Deus não sanciona a promoção de um ramo da obra sem consideração para com os outros. É Seu desígnio que a obra médico-missionária prepare o caminho para a apresentação da salvadora verdade para este tempo, a proclamação da terceira mensagem angélica. Uma vez que se cumpra esse desígnio, a mensagem não será eclipsada, nem seu progresso impedido.

Não são numerosas instituições, grandes edifícios ou ostentação o que Deus requer, mas a ação harmoniosa de um povo peculiar, um povo precioso escolhido por Deus. Cada um deve ficar em seu lugar, pensando, falando e agindo em harmonia com o Espírito de Deus. Então, e não antes, será a obra um todo, completa e simétrica.