Testemunhos para a Igreja, 6

Capítulo 47

Dando a Deus o Que lhe Pertence

O Senhor deu a Seu povo uma mensagem para o tempo presente. Ela se encontra no terceiro capítulo de Malaquias. O Senhor não poderia ter expresso as Suas ordens de modo mais claro e impressivo do que o fez nesse capítulo.

Devemos ponderar que as reivindicações de Deus a nosso respeito são mais importantes do que todas as demais. Ele nos dá com abundância, e o ajuste que fez com o homem é que a décima parte de todos os bens Lhe seja restituída. O Senhor confia liberalmente Seu tesouro a Seus mordomos, mas quanto ao dízimo, diz: "Este Me pertence." Na mesma proporção em que Deus dá ao homem Seus bens, este deve restituir a Deus fielmente a décima parte de todos os seus proventos. Essa instituição foi estabelecida pelo próprio Cristo.

Essa contribuição envolve resultados solenes e eternos, e é demasiadamente sagrada para ser deixada ao arbítrio do homem. Não devemos nos sentir em liberdade para proceder como nos apraz nessa questão. Em obediência às ordens de Deus, devemos separar quantias regulares, santificadas para a obra do Senhor.

Primícias

Afora o dízimo, o Senhor requer de nós as primícias de todas as nossas rendas, e isso para que a Sua obra na Terra possa ser amplamente custeada. Os servos do Senhor não devem estar limitados a suprimentos escassos. Seus mensageiros não devem ter as mãos atadas, em seu trabalho de levar as palavras da vida. Ao proclamarem a verdade, devem ter ao seu dispor meios suficientes para promover a obra de tal modo que ela exerça o maior e mais abençoado efeito. Importa fazer obras de caridade e auxiliar os pobres e sofredores. Para esse fim devem ser empregados donativos e ofertas. Essa obra deve ser realizada especialmente em campos novos, onde não foi fincado ainda o estandarte da verdade. Se todo o povo professo de Deus, velhos e moços, cumprisse o seu dever, não haveria carências na casa do Seu tesouro. Se todos devolvessem fielmente seus dízimos e devotassem ao Senhor as primícias de suas entradas, não escasseariam os fundos para a Sua obra. Mas a lei de Deus deixou de ser respeitada ou obedecida, e isso tem gerado carência de recursos.

Lembrar-se dos pobres

Toda extravagância deve ser eliminada de nossos hábitos, porque o tempo que nos resta para trabalhar é curto. Por toda parte, ao nosso redor, vemos miséria e sofrimento; famílias em falta do necessário, crianças sem comida. A casa do pobre ressente-se, muitas vezes, da falta de móveis indispensáveis, de colchões e roupa de cama. Muitos vivem em simples casebres, destituídos de conforto. O clamor dos pobres chega aos Céus. Deus vê e ouve. Mas muitos se glorificam a si mesmos. Enquanto seus semelhantes curtem a miséria, passando fome, eles gastam grandes somas com mesa farta, comendo muito mais do que é necessário. Que contas prestarão a Deus do emprego tão egoísta de Seu dinheiro? O que desprezar as provisões que Deus fez no tocante aos pobres finalmente verá que não só roubou ao próximo, como a Deus, dilapidando Sua propriedade.

Todas as coisas pertencem a Deus

Todas as coisas que o homem desfruta são devidas à graça de Deus. Ele é o grande e bondoso Despenseiro de todos os benefícios. Seu amor é revelado nas abundantes providências que tomou para o homem. Ele nos concede um tempo de graça em que nos cumpre formar o caráter para a eternidade. Não é porque Ele necessite de algo que nos pede uma parte de nossos bens para Ele.

O Senhor criou cada árvore que havia no jardim do Éden agradável à vista e boa para comer, e permitiu a Adão e Eva que desfrutassem delas livremente. Fez, porém, uma exceção. Da árvore do conhecimento do bem e do mal, não lhes permitiu comer. Essa árvore foi reservada como lembrança constante de que Ele é o legítimo proprietário de todas as coisas. Desse modo lhes deu a oportunidade de Lhe manifestarem sua fé e confiança, em obediência perfeita às Suas ordens.

Dá-se o mesmo com as reivindicações de Deus a nosso respeito. Ele deposita Seus tesouros nas mãos dos homens, porém requer deles que separem fielmente a décima parte para a Sua obra. Ordena que essa porção seja recolhida à casa do Seu tesouro, e a Ele entregue como propriedade Sua. Ela é sagrada e deve ser usada para propósitos santos, para o sustento dos que levam a Sua mensagem ao mundo. Deus Se reserva essa parte para que não faltem recursos em Sua casa, e a luz da verdade possa ser levada a todos os que estão distantes e os que estão perto. Pela obediência fiel a essa ordem, reconhecemos que todas as coisas pertencem ao Senhor.

E porventura o Senhor não terá o direito de requerer isso de nós? Ele não deu Seu Filho unigênito, porque nos amou e quis nos salvar da morte? E não deverão as nossas ofertas de gratidão voltar aos Seus tesouros para que daí sejam tirados os meios de promover a Sua obra na Terra? Se Deus é o legítimo dono de tudo quanto possuímos, não deveria a nossa gratidão levar-nos a dar ofertas voluntárias e de agradecimento, reconhecendo assim Seu direito sobre nossa alma, corpo, espírito e posses? Se os homens houvessem seguido os planos de Deus, a casa do Seu tesouro não teria falta alguma, e haveria fundos suficientes para enviar pastores e obreiros auxiliares a novos campos, a fim de desfraldarem o estandarte nos lugares obscurecidos da Terra.

Sem desculpa

É plano de Deus que o homem deva restituir ao Senhor o que Lhe pertence; e ele foi exposto tão claramente, que homens e mulheres não têm desculpa de não entender os deveres e responsabilidades que Deus lhes impôs, ou a eles se esquivar. Os que não querem ver claramente esse dever revelam ao Universo, à igreja e ao mundo que não desejam reconhecer essa ordem tão explícita. Pensam, talvez, que, seguindo o plano de Deus, sofrerão falta de recursos. Na avareza de seu coração egoísta desejam reter tudo -- o capital e juros -- a fim de empregar no interesse próprio.

Deus, pondo a mão sobre as propriedades dos homens, lhes diz: "Sou o Senhor de todo o Universo, e esses bens são Meus. Eu reservei o dízimo que foi retido, para sustento de Meus servos, no seu trabalho de abrir as Escrituras aos que habitam nas regiões das trevas e aos que não entendem a Minha lei. Empregando o Meu fundo de reserva para satisfazer os seus próprios desejos, vocês estão roubando das pessoas a luz que a elas destinei. Dei-lhes uma oportunidade, mas vocês a rejeitaram. Estão Me roubando, subtraindo as Minhas reservas. Por isso, 'com maldição sois amaldiçoados'". Malaquias 3:9.

Outra oportunidade

O Senhor é bondoso e longânimo, proporcionando nova oportunidade aos que cometeram esse pecado. "Tornai-vos para Mim", diz Ele, "e Eu tornarei para vós." Dizem, porém, eles: "Em que havemos de tornar?" Malaquias 3:7. Seus meios foram usados pelo homem para fins egoístas, de glorificação própria, como se esses bens lhes pertencessem de fato e não fossem apenas emprestados. Sua consciência se tornou tão insensível que não podem reconhecer a grande impiedade como um obstáculo no caminho para o avanço da verdade.

Homens, míseros mortais, depois de gastar no interesse próprio os meios que Deus reservara para a obra da salvação, a fim de enviar às almas que perecem a mensagem da graça de um amante Salvador, e por seu egoísmo terem impedido que essa obra se fizesse como deveria ser feita, ainda perguntam: "Em que Te roubamos?" Deus responde: "Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, porque Me roubais a Mim, vós, toda a nação." Todo o mundo está empenhado em roubar a Deus. Os homens dissipam os bens que lhes foram concedidos por empréstimo em divertimentos, prazeres, festanças e na satisfação dos apetites carnais. Mas Deus diz: "Chegar-Me-ei a vós para juízo." Malaquias 3:8, 9, 5. O mundo inteiro terá contas a ajustar naquele dia em que cada um receberá conforme as suas obras.

A bênção

Deus Se compromete a abençoar os que obedecem aos Seus mandamentos. "Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa, e depois fazei prova de Mim, diz o Senhor dos exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do Céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança. E por causa de vós repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; e a vide no campo não vos será estéril, diz o Senhor dos exércitos." Malaquias 3:10, 11.

À vista de expressões tão claras e cheias de verdade, como ousará o homem negligenciar um dever tão positivo? Como se atreverá a desobedecer, se a obediência a essa ordem implica a bênção de Deus tanto nas coisas materiais como nas espirituais, e se a desobediência equivale à maldição divina? Satanás é o assolador. Deus não pode abençoar quem se recusa a ser mordomo fiel. Tudo o que pode fazer é permitir a Satanás que realize sua obra destruidora. Vemos calamidades de toda espécie e proporções assolarem a Terra, e por quê? Porque o poder regulador de Deus não é exercido. O mundo tem desprezado a Palavra de Deus. Os homens vivem como se Ele não existisse. Da mesma forma que os habitantes do mundo antediluviano, recusam aceitar qualquer idéia de Deus. A impiedade cresce em proporção assustadora, e a Terra está madura para a ceifa.

Os queixosos

"As vossas palavras foram agressivas para Mim, diz o Senhor. Mas vós dizeis: Que temos falado contra Ti? Vós dizeis: Inútil é servir a Deus. Que nos aproveitou termos cuidado em guardar os Seus preceitos, e em andar de luto diante do Senhor dos exércitos? Ora pois, nós reputamos por bem-aventurados os soberbos; também os que cometem impiedade se edificam; sim, eles tentam ao Senhor, e escapam." Malaquias 3:13-15. Assim murmuram contra Deus os que retiveram o que Lhe pertence. O Senhor os convida a prová-Lo nisto: trazendo todos os dízimos à casa do tesouro, para verem se não lhes derramará uma bênção. Alimentando sentimentos de rebeldia, porém, queixam-se de Deus, ao mesmo tempo que O roubam e dilapidam o que é Seu. Ao ser-lhes apresentado o seu pecado, dizem: Tive contratempos; minha colheita foi mesquinha, ao passo que os ímpios prosperam. Não vale a pena obedecer às determinações de Deus.

Deus, porém, não quer que alguém se conduza queixosamente em Sua presença. Os queixosos são os próprios causadores de sua adversidade. Roubam a Deus, e Sua causa tem lutado com dificuldades porque o dinheiro que deveria entrar para os tesouros do Senhor foi empregado em finalidades egoístas. Recusando-se a executar o plano determinado por Deus, demonstraram sua deslealdade para com Ele. Quando Deus os prosperava e eram convidados a devolver-Lhe o que Lhe é devido, meneavam a cabeça e se negavam a reconhecer esse dever. Fechavam os olhos da compreensão para não ver. Retendo o dinheiro do Senhor, retardaram a obra que Ele determinou fosse feita. Deus deixou de ser honrado com o emprego conveniente que lhes cumpria dar aos bens a eles confiados. Por isso a maldição caiu sobre eles, permitindo Deus que o devorador destruísse os seus frutos e lhes sobreviessem calamidades.

"Aqueles que temem ao Senhor"

Em Malaquias 3:16 é mencionada outra classe que se reúne, não para queixar-se de Deus, mas para falar de Sua misericórdia e exaltar Sua glória. Esses se demonstraram fiéis no cumprimento dos seus deveres, dando ao Senhor o que Lhe pertence. Seus testemunhos são motivos de cânticos e alegria entre os anjos celestiais. Eles não têm agravo algum contra Deus. Aqueles que andam na luz, que são fiéis no cumprimento de seu dever, não se queixam nem acusam faltas. Sua conversação consiste em palavras de ânimo, esperança e fé. Só têm motivos de queixa os que servem a si próprios e não dão a Deus o que Lhe pertence.

"Então aqueles que temem ao Senhor falam cada um com o seu companheiro; e o Senhor atenta e ouve; e há um memorial escrito diante dele, para os que temem ao Senhor, e para os que se lembram do Seu nome. E eles serão Meus, diz o Senhor dos exércitos, naquele dia que farei serão para Mim particular tesouro; poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho, que o serve. Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que O não serve." Malaquias 3:16-18.

A recompensa da sincera liberalidade é a mais íntima comunhão do espírito e do coração com o Espírito Santo.

O homem que fracassou nos negócios e está endividado não deve servir-se da parte que pertence ao Senhor, a fim de liquidar seus compromissos. Deve considerar que é provado nisso e que, retendo a parte do Senhor para fins próprios, está roubando a Deus. É devedor a Deus de tudo quanto tem, mas se emprega os fundos reservados do Senhor para saldar dívidas contraídas com seus semelhantes, torna-se um duplo devedor diante dEle.

"Infidelidade para com Deus", é o que se acha escrito junto ao seu nome nos livros do Céu. Por apropriar-se dos recursos do Senhor para seu próprio interesse, tem uma conta para saldar com Deus. E a falta de princípios que mostrou nesse ato indevido vai revelar-se também noutros negócios que empreender. Mostrar-se-á em todos os assuntos relacionados com seus próprios negócios. O homem que rouba a Deus cultiva traços de caráter que o impedirão de ser admitido na família celestial.

O uso egoísta da riqueza prova infidelidade para com Deus e torna o mordomo inapto para gerir bens celestiais.

Por toda parte se oferecem oportunidades de fazer o bem. A cada passo surgem necessidades, e as missões são impedidas de progredir por falta de meios, tendo que ser abandonadas se o povo não despertar para o sentimento da realidade. Não espere até o dia da morte para fazer seu testamento, mas disponha de seus meios enquanto está vivo.