Testemunhos para a Igreja, 7

Capítulo 30

Trabalhos comerciais

O Senhor determinou que as casas publicadoras fossem estabelecidas para a promulgação da verdade presente, bem como para a efetivação das várias transações que esse trabalho envolve. Ao mesmo tempo devem manter-se em contato com o mundo, para que a verdade possa ser como uma luz posta num candelabro e alumie todos quantos estão na casa. Pela providência divina, Daniel e seus companheiros foram postos em contato com os grandes homens de Babilônia, a fim de que essas pessoas conhecessem a religião dos hebreus e soubessem que Deus governa todos os reinos.

Em Babilônia, Daniel foi posto em uma função muito difícil; mas ao mesmo tempo que desempenhava fielmente os seus deveres de estadista, evitou firmemente participar de qualquer coisa que fosse contrária a Deus. Esse procedimento provocava discussões, e o Senhor atraiu, assim, a atenção do rei de Babilônia para a fé de Daniel. Deus tinha luz para conceder a Nabucodonosor, e por meio de Daniel foram apresentadas ao rei as coisas preditas nas profecias concernentes a Babilônia e a outros reinos. Por meio da interpretação do sonho de Nabucodonosor, Jeová foi exaltado como sendo mais poderoso que os governantes terrestres. Assim, pela fidelidade de Daniel, Deus foi honrado. De igual maneira, deseja o Senhor que as nossas casas publicadoras sejam Suas testemunhas.

Oportunidades na atividade comercial

Um dos meios pelos quais essas instituições são postas em contato com o mundo é através da atividade comercial. Por ela é aberta uma porta para a comunicação da luz da verdade.

Podem os obreiros ter a impressão de que desempenham trabalho meramente secular, mas estão empenhados no próprio trabalho que suscitará perguntas acerca da fé e dos princípios que adotam. Se estiverem animados de bom espírito, poderão falar em tempo oportuno. Se há neles a luz da verdade e o amor celestiais, ela não poderá deixar de irradiar-se. A própria maneira de procederem nos assuntos comerciais, manifestará a influência dos princípios divinos. De nossos obreiros, como outrora foi dito dos artífices do tabernáculo, se poderá dizer: "E o enchi do espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o artifício." Êxodo 31:3.

Não deve ocupar o primeiro lugar

Em nenhuma situação devem as nossas casas publicadoras dar preferência aos trabalhos comerciais. Se o fizerem, as pessoas que nelas trabalham perderão de vista o propósito para que foram instituídas e seu trabalho vai degenerar.

Há o perigo de que gerentes, cuja percepção espiritual esteja pervertida, assumam compromissos de publicar assunto de mérito duvidoso, apenas por causa do lucro. Disso resultará que o objetivo para que foram instituídas as casas publicadoras será perdido de vista, e as instituições serão consideradas como qualquer outra empresa comercial. Com isso Deus é desonrado.

Em algumas de nossas casas publicadoras, o trabalho comercial requer aumento constante de investimentos em maquinaria dispendiosa e outros equipamentos. Esses gastos oneram pesadamente o orçamento da instituição, e a maior quantidade de trabalho não somente exige instalações mais amplas, mas uma quantidade de obreiros maior que a que se possa disciplinar devidamente.

Afirma-se que o trabalho comercial é de interesse financeiro para a instituição. Mas um Ser que possui autoridade fez o cálculo do que custa esse trabalho para as nossas principais casas publicadoras. Apresentou Ele um balanço exato, que mostra que os prejuízos são superiores aos lucros. Mostrou que esse trabalho obriga os obreiros a estarem continuamente sobrecarregados. Nesse ambiente de pressa, cansaço e mundanismo, decaem a piedade e a devoção.

Não é necessário que o trabalho comercial seja inteiramente suprimido das nossas casas publicadoras, porque isso fecharia a porta para os raios de luz que devem ser comunicados ao mundo. As relações com a gente do mundo não têm de ser necessariamente mais prejudiciais para os obreiros do que foi o trabalho de Daniel, como estadista, que ele não permitiu que afetasse sua fé e princípios. Toda vez, porém, que esse trabalho externo possa prejudicar a espiritualidade da instituição, seja ele rejeitado. Que seja realizado o trabalho que representa a verdade. Que ele tenha a preferência, e o trabalho comercial fique em segundo lugar. Nossa missão consiste em dar ao mundo a mensagem de advertência e misericórdia.

Preços

No esforço de conseguir para as nossas casas publicadoras uma clientela que as tire de dificuldades financeiras, foram estabelecidos preços tão baixos que o trabalho não produzia lucro. Os que se iludiam de que havia lucro, não tinham computado estritamente todos os gastos. Não se deve reduzir os preços simplesmente para conseguir trabalho. Só se deve aceitar o trabalho que dê um lucro razoável.

Por outro lado não deve haver em nossas transações comerciais sombra alguma de egoísmo ou cobiça. Não se aproveite ninguém da ignorância ou da necessidade de outros para extorquir-lhe preços exorbitantes por trabalho feito ou por mercadorias vendidas. Haverá tentação forte para desviar do caminho reto; serão encontrados numerosos argumentos em favor da conformidade com as práticas mundanas e a adoção de costumes que em realidade são desonestos. Insistem alguns em que, ao tratar com espertos, é preciso seguir as mesmas regras deles; e que, se for mantida estrita integridade, não será possível ganhar nos negócios ou assegurar a subsistência. Onde está a nossa fé em Deus? Pertencemos-Lhe, como filhos e filhas, sob a condição de separar-nos do mundo e não tocar em nada imundo. Às Suas instituições bem como aos cristãos individualmente, dirige o Senhor estas palavras: "Buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça" (Mateus 6:33), e promete de modo seguro que todas as coisas necessárias à vida serão acrescentadas. Sobre cada consciência, como que com pena de ferro sobre a rocha, seja escrito que o verdadeiro êxito, quer para esta vida quer para a futura, só pode ser alcançado por meio da fiel obediência aos princípios eternos da justiça.

Leitura desmoralizadora

Ao fazerem grande quantidade de trabalho comercial, nossas casas publicadoras estão expostas ao perigo de ter que imprimir leitura de valor duvidoso. Certa ocasião em que esses assuntos me foram apresentados, o meu Guia perguntou a alguém que ocupava cargo de responsabilidade numa instituição de publicações: "Quanto está cobrando pela execução deste trabalho?" Foram-Lhe mostradas as importâncias. Disse Ele: "É uma importância pequena demais. Se continuar com esse negócio terá prejuízo. Mas mesmo que recebesse muito mais, essa espécie de leitura só trará um grande prejuízo. A influência que exerce sobre os obreiros é desmoralizadora. Todas as mensagens que Deus lhes enviar, apresentando a santidade da obra, serão neutralizadas por esse procedimento de aceitar imprimir tais coisas."

O mundo está inundado de livros que mais conviria destruir que divulgar. Livros sobre guerras indígenas e assuntos similares, publicados e distribuídos com a finalidade de ganhar dinheiro, melhor seria se nunca fossem lidos. Esses livros contêm fascinação satânica. A descrição horripilante de crimes e atrocidades exerce sobre muitos jovens uma influência enfeitiçante, incitando-lhes o desejo de alcançar celebridade por meio de atos da maior violência. Grande número de obras existe que são mais estritamente históricas e cuja influência nem por isso é melhor. As atrocidades, as crueldades e as práticas licenciosas descritas nessas obras têm atuado em muitos espíritos como um fermento que os leva à prática de atos semelhantes. Livros que descrevem as práticas satânicas dos seres humanos estão fazendo publicidade das más obras. Não é necessário reviver os pormenores horríveis do crime e sofrimentos, e ninguém que crê na verdade presente deveria contribuir para a perpetuação de sua lembrança.

As novelas de amor, e histórias frívolas e provocantes, constituem outra espécie de livros que são uma maldição para todo leitor. Pode o autor inserir um bom conceito moral, e entremear a sua obra de sentimentos religiosos; não obstante, em muitos casos, Satanás não fica senão disfarçado com vestes angélicas, a fim de com mais facilidade enganar e seduzir. Em grande medida a mente é influenciada pelas coisas de que se nutre. Os leitores de histórias frívolas ou provocantes ficam incapacitados para o cumprimento dos seus deveres. Vivem uma vida irreal, e não têm desejo de examinar as Escrituras para nutrir-se do maná celestial. Ficam com a mente debilitada e perdem a faculdade de considerar os grandes problemas do dever e do destino.

Foi-me instruído que a juventude está exposta aos maiores perigos, como conseqüência das más leituras. Satanás está constantemente levando, tanto os jovens como os adultos, a encantarem-se com histórias sem valor. Se fosse possível inutilizar boa parte dos livros publicados, isso deteria uma praga que está fazendo um trabalho espantoso de enfraquecer a mente e corromper o coração. Ninguém está tão firme nos princípios da justiça a ponto de ficar livre da tentação. Toda essa leitura imprestável deve ser banida resolutamente.

Não temos do Senhor permissão para empenhar-nos, quer na impressão, quer na venda dessas publicações; pois são o veículo da perdição de muitas pessoas. Eu sei o que escrevo; pois esse assunto me foi apresentado. Não se empenhem nesse trabalho, pensando em ganhar dinheiro, os que crêem na mensagem para este tempo. O Senhor lançará uma maldição sobre o dinheiro assim obtido; Ele espalhará mais do que é ajuntado.

Outra espécie de leitura existe, mais corruptora do que a lepra, mais mortífera do que as pragas do Egito, contra as quais as nossas casas publicadoras precisam precaver-se constantemente. Ao aceitarem trabalhos comerciais, devem exercer vigilância a fim de não serem recebidos em nossas instituições manuscritos que apresentem a própria ciência de Satanás. Não tenham jamais entrada em nossas casas publicadoras os trabalhos que exponham as teorias destrutoras da alma, tais como o hipnotismo, espiritismo, romanismo e outros mistérios da iniquidade.

Não seja manuseado pelos nossos obreiros coisa alguma que semeie uma semente de dúvida quanto à autoridade ou a pureza das Escrituras. De maneira alguma sejam as convicções dos incrédulos apresentadas aos jovens cujo espírito, com tanta avidez, aceita qualquer novidade. Por mais elevado que seja o preço pago por essa publicação, ele só produzirá imenso prejuízo.

Permitir que tal coisa aconteça em nossas instituições equivale a pôr em mãos dos nossos obreiros e a apresentar ao mundo o fruto proibido da árvore do conhecimento. Equivale a convidar Satanás para entrar com sua ciência sedutora; e a insinuar os seus princípios nas próprias instituições estabelecidas para o avanço da santa obra de Deus. Imprimir obras dessa espécie, equivale a municiar as armas do inimigo e colocá-las nas mãos deles para que as use contra a verdade.

Acha você que Jesus continuará em nossas instituições de publicações para atuar sobre as mentes humanas pelos Seus anjos ministradores; acha você que, se permitirmos que, na própria instituição, Satanás perverta o espírito dos obreiros, Ele fará da verdade que sai dos nossos prelos um poder para advertir o mundo? Poderá a bênção divina ser posta sobre as publicações que saem do prelo, se do mesmo prelo saem heresias e enganos satânicos? "Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?" Tiago 3:11.

Os administradores das nossas instituições precisam reconhecer que ao aceitarem esse cargo se tornam responsáveis pelo alimento intelectual fornecido aos obreiros enquanto estejam na instituição. São responsáveis pela espécie de impressos que saem dos nossos prelos. Serão chamados a prestar contas pela influência exercida pela introdução de matéria que polua a instituição, contamine os obreiros, ou engane o mundo.

Se for permitido que tais coisas tenham entrada em nossas instituições, logo se descobrirá que o poder sutil dos sentimentos satânicos não é facilmente eliminado. Se for consentido que o tentador semeie a má semente, ela germinará e frutificará. Haverá uma seara para que ele ceife nas próprias instituições estabelecidas com os recursos do povo de Deus para o avanço da Sua causa. Disso resultará que, em vez de enviar ao mundo obreiros cristãos, será enviado um grupo de incrédulos instruídos.

Nesses assuntos, uma responsabilidade pesa não somente sobre os administradores, mas também sobre os servidores. Tenho alguma coisa que dizer aos obreiros de cada casa publicadora existente entre nós: Se você ama e teme a Deus, evite o contato com aquele tipo de conhecimento contra o qual Deus advertiu a Adão. Evitem os digitadores de escrever uma única frase a respeito dessas coisas. Abstenham-se os revisores de ler; os impressores, de imprimir; e os encadernadores, de encaderná-las. Se for pedido que você faça esse trabalho, convoque uma reunião dos obreiros da instituição, a fim de que haja compreensão do que essas coisas significam. Podem os que administram a instituição insistir em que você não é responsável, que aos administradores compete decidir esses assuntos. Mas você é responsável -- responsável pelo uso dos seus olhos, mãos e mente. Eles lhe foram confiados por Deus para usá-los para Ele, não para o serviço de Satanás.

Quando são impressos em nossas casas publicadoras assuntos que incluem erros que neutralizam a obra de Deus, Ele considera responsáveis não somente os que permitem que Satanás prepare uma armadilha para as pessoas, mas também os que de qualquer maneira cooperam na obra da tentação.

Meus irmãos que ocupam cargos de responsabilidade: Cuidem de não atrelar ao carro da superstição e heresia os seus obreiros. Não permitam que as instituições estabelecidas por Deus para disseminar a verdade vivificante sejam transformadas em veículo disseminador do erro destruidor de almas.

Que as nossas casas publicadoras, desde a menor até a maior, se recusem a imprimir uma única linha desses assuntos perniciosos. Compreendam todos aqueles com quem temos que tratar, que os impressos que contêm a ciência de Satanás estão excluídos de todas as nossas instituições.

Não somos postos em contato com o mundo para ser levedados pela sua falsidade, mas para, como instrumentos de Deus, ser para o mundo um fermento da verdade divina.