João Batista, o precursor de Cristo, recebeu dos pais sua primeira educação. A maior parte de sua vida ele a passou no deserto, de modo que não pudesse ser influenciado pela contemplação da negligente piedade dos sacerdotes e rabis, ou por aprender suas máximas e tradições, por meio das quais os retos princípios eram pervertidos e amesquinhados. Os líderes religiosos daqueles dias haviam-se tornado tão cegos espiritualmente, que mal conseguiam reconhecer as virtudes de origem celestial. Por tanto tempo haviam acariciado o orgulho, a inveja, o ciúme, que interpretavam as Escrituras do Antigo Testamento de uma tal maneira, que lhes destruía o verdadeiro sentido. Foi escolha de João preferir aos prazeres e luxo da vida da cidade a severa disciplina do deserto. Ali o ambiente era favorável aos hábitos de simplicidade e abnegação. Não perturbado pelo clamor do mundo, podia estudar as lições da natureza, da revelação e da providência. As palavras do anjo a Zacarias foram muitas vezes repetidas a João por seus pais, tementes a Deus. Desde a meninice, teve sua missão diante de si, e ele aceitou o santo encargo. Para ele a solidão do deserto era uma grata oportunidade de escapar da sociedade em que a suspeita, a incredulidade e a impureza tinham praticamente dominado tudo. Ele desconfiava do seu próprio poder de resistir à tentação e fugia ao constante contato do pecado, não viesse ele a perder o senso de sua excessiva malignidade.
Mas a vida de João não era gasta em ociosidade, em ascética contemplação, ou em isolamento egoísta. De tempos em tempos, misturava-se ele com os homens; e era sempre um interessado observador daquilo que ocorria no mundo. De seu calmo retiro observava ele os eventos que se desdobravam. Com a visão iluminada pelo divino Espírito, estudava o caráter das pessoas, de modo a conseguir compreender como alcançaria seus corações com a mensagem do Céu.
Cristo viveu a vida de um genuíno médico-missionário. Almeja Ele que estudemos diligentemente a Sua vida, de modo que possamos aprender a trabalhar do modo como trabalhou.
Sua mãe foi Seu primeiro mestre. De seus lábios e dos rolos dos profetas, Ele aprendeu as coisas celestiais. Viveu num lar campestre, e fiel e alegremente desempenhou Sua parte em levar os fardos da família. Ele havia sido o Comandante do Céu, e os anjos se deleitavam em cumprir Sua vontade; agora era voluntário servo, um amável e obediente filho. Aprendeu um ofício, e com Suas próprias mãos agiu na oficina de carpintaria ao lado de José. Nas vestimentas simples de um operário comum, caminhou pelas ruas da pequena cidade, indo e retornando de Seu humilde labor.
Para as pessoas daquela época, o valor das coisas era determinado por sua aparência exterior. À medida que a religião declinava em poder, crescia em pompa. Os educadores daquele tempo procuravam obter respeito pela exibição externa e ostentação. Diante de tudo isso a vida de Jesus representava um acentuado contraste. Sua vida demonstrava a inutilidade daquelas coisas que os homens reputavam como as essenciais da vida. As escolas de Seu tempo, com sua forma de exaltar as coisas pequenas e diminuir a importância das grandes coisas, não as procurou Ele. Sua educação foi obtida de fontes indicadas pelo Céu, do trabalho útil, do estudo das Escrituras e da natureza, e também das experiências da vida -- os livros-textos de Deus, cheios de instruções para todos os que se apresentam com coração disposto, com olhos que almejam ver, com entendimento pronto a compreender.
"E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre Ele." Lucas 2:40.
Assim preparado saiu para Sua missão, e em cada momento de Seus contatos com os homens exerceu sobre eles uma influência de bênção, um poder para transformar, como o mundo jamais testemunhara.
Palavras de advertência
Vivemos em tempos de especial perigo para a juventude. Satanás sabe que o fim de todas as coisas logo sobrevirá, de modo que determinou-se a aproveitar cada oportunidade para pressionar homens e mulheres a ingressarem em seu serviço. Inventará artifícios variados para levá-los a se desviarem. Necessitamos considerar cuidadosamente as palavras de advertência escritas pelo apóstolo Paulo:
"Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. Pelo que saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; e eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso." 2 Coríntios 6:14-18.
Luz especial me foi concedida no tocante a como podemos realizar muito mais em favor do Mestre através do estabelecimento de muitos pequenos sanatórios, do que construindo umas poucas instituições grandes. Em grandes instituições poderão reunir-se muitos que não se encontram de fato enfermos e que, à semelhança de turistas, estão procurando sossego e prazer. Esses terão de ser cuidados por enfermeiras e ajudantes. Homens e mulheres, que desde seus mais precoces anos foram protegidos de associações mundanas, serão assim postos em contato com mundanos de todas as classes, e em maior ou menor grau influenciados por aquilo que verão e ouvirão. Tornar-se-ão semelhantes àqueles com os quais se associam, perdendo a simplicidade e modéstia que pais e mães cristãos praticaram e acariciaram através de cuidadosa instrução e sincera oração.
Estamos vivendo em meio aos perigos dos últimos dias. Algo decisivo deve ser dito para advertir nosso povo contra o perigo de permitirem que filhos necessitados de cuidados e instruções paternos, deixem seus lares e se dirijam a locais onde serão postos em contato com pessoas mundanas, pouco religiosas, amantes de prazeres.
Em muitos lares, o pai e a mãe têm permitido que as crianças governem. Tais filhos se encontrarão em perigo muito maior, quando postos em contato com influências que se opõem às coisas de Deus, do que se encontram aqueles que aprenderam a obedecer. Não havendo recebido o necessário ensino em questões de disciplina, pensam que podem proceder do modo como desejam. O conhecimento de como obedecer poderia fortalecê-los para resistirem à tentação, mas esse conhecimento não lhes foi ministrado por seus pais. Quando esses jovens indisciplinados entram numa imensa instituição, onde existem tantas influências que se opõem à espiritualidade, acham-se eles em grave perigo, e muitas vezes sua permanência nesse local representa um dano para si mesmos e para a instituição.
Sou instruída a advertir os pais cujos filhos não possuem firmeza de princípio ou uma clara experiência cristã a não os enviarem para fora do lar, para lugares distantes, onde estarão ausentes por muitos meses, ou talvez anos, onde poderão ser plantadas em sua mente as sementes da descrença e da infidelidade. Será mais seguro, e muito melhor, enviar tais filhos às escolas e sanatórios mais próximos de suas casas. Que os jovens em processo de formação do caráter sejam mantidos afastados de lugares onde poderiam misturar-se com um grande numero de descrentes, e onde as forças do inimigo se acham fortemente entrincheiradas.
Que os administradores de nossos grandes sanatórios se esforcem decididamente por empregar pessoas de mais idade como ajudantes nessas instituições. Na visões da noite eu me encontrava numa grande assembléia, onde esse assunto foi levantado para discussão. Àqueles que planejavam enviar seus indisciplinados filhos a Battle Creek, Alguém de autoridade disse:
"Ousarão vocês fazer tal experiência? A salvação de seus filhos vale muito mais que a educação que possam receber nesse lugar, onde se encontrarão constantemente expostos à influência dos descrentes. Muitos que vêm a essa instituição não se acham convertidos. Encontram-se repletos de orgulho, e não possuem, por meio da fé, ligação com Deus. Muitos dos moços e moças que atendem a esses mundanos possuem apenas uma pequena experiência cristã, e facilmente se enredarão nas artimanhas colocadas diante de seus pés."
Alguém dentre os presentes perguntou: "O que pode ser feito para remediar esse mal?" O Orador respondeu: "Uma vez que vocês colocaram a si próprios nessa posição de perigo, que sejam trazidos à instituição homens e mulheres maduros em anos, e de caráter firmado, a fim de exercerem uma contra-influência para o bem. O desenvolvimento de um tal plano aumentará as despesas atuais do Sanatório, mas poderá representar um meio eficaz de proteger a fortaleza, e de escudar a juventude da instituição diante das contaminadoras influências às quais se encontra exposta presentemente.
"Pais e tutores, coloquem seus filhos em escolas onde a influência seja idêntica à de uma escola do lar, devidamente dirigida; um escola em que os professores os façam avançar de um ponto para outro, e em que a atmosfera espiritual seja um cheiro de vida para vida."
As palavras de advertência e instrução que tenho escrito a respeito do envio de nossos jovens a Battle Creek em busca de preparo para o serviço na causa do Senhor não são palavras inúteis. Alguns jovens tementes a Deus suportarão a prova, mas não é seguro para nós deixá-los, mesmo aos mais conscienciosos, sem o nosso melhor cuidado e proteção. Se nossos jovens que recebem sábia instrução e preparo de pais piedosos continuarão ou não a ser santificados pela verdade, depende em grande parte da influência que, depois de partirem do lar, encontram entre aqueles de quem buscam instrução cristã.
Sou instruída a repetir a nossos irmãos e irmãs a advertência e exortação que Paulo enviou à igreja de Tessalônica:
"Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado; e, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da Sua boca e aniquilará pelo esplendor da Sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira, e com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniqüidade." 2 Tessalonicenses 2:7-12.
"Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade, para o que, pelo nosso evangelho, vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, e nosso Deus e Pai, que nos amou e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, console o vosso coração e vos conforte em toda boa palavra e obra." 2 Tessalonicenses 2:13-17.
Setembro de 1903
Quando considero o estado de coisas em Battle Creek, tremo por nossos jovens que ali estão. A luz que o Senhor me concedeu, de que nossos jovens não devem agrupar-se em Battle Creek para receber sua educação, não se modificou em nenhum particular. O fato de o Sanatório haver sido reconstruído não modifica a luz a respeito. Aquilo que no passado tornou Battle Creek um lugar inadequado para a educação de nossos jovens, continua a torná-lo inadequado ainda hoje, no que diz respeito às influências.
Quando veio o chamado para a saída de Battle Creek, a súplica foi: "Estamos aqui e tudo está estabelecido. Seria impossível nos mudarmos sem enorme despesa."
O Senhor permitiu que o fogo consumisse os principais edifícios da Review and Herald e do hospital, e dessa maneira removeu a maior objeção apresentada contra a mudança de Battle Creek. Era Seu desígnio que em lugar de reconstruir o mesmo grande edifício, nosso povo criasse instituições em vários lugares. Essas clínicas menores deveriam ter sido estabelecidas onde se pudesse conseguir terra para fins de agricultura. É plano de Deus que a agricultura esteja relacionada com a obra de nossos hospitais e escolas. Nossos jovens precisam da educação que deve ser alcançada por essa espécie de trabalho. É bom, e mais do que bom -- é indispensável -- que se façam esforços para levar avante o plano de Deus nesse sentido.
Deveríamos encorajar nossos mais promissores jovens, moços e moças, a se dirigirem a Battle Creek, a fim de obter seu preparo para o serviço num local em que estarão cercados com tantas influências que tendem a desviá-los? O Senhor me revelou alguns dos perigos que terão de enfrentar os jovens vinculados a um sanatório tão grande. Muitos dos ricos e mundanos homens e mulheres que patrocinam a instituição, constituirão uma fonte de tentação para os auxiliares. Alguns dentre estes tornar-se-ão os favoritos dos pacientes ricos, e lhes serão oferecidas atraentes vantagens para se tornarem seus empregados. Por intermédio da exibição mundana de alguns dos hóspedes do Sanatório, o joio já foi semeado no coração de moços e moças empregados como auxiliares e enfermeiros. Essa é a forma como Satanás está operando.
Em virtude de estar o Sanatório onde não deveria estar, não deverá a palavra do Senhor relacionada com a educação de nossos jovens ser levada em conta? Permitiremos que os mais inteligentes dentre nossos jovens, membros das igrejas de nossas associações, sejam colocados onde alguns deles serão privados de sua simplicidade por meio do contato com homens e mulheres que não possuem o temor de Deus em seu coração? Permitirão os que se encontram em posições de responsabilidade nas associações, que nossa juventude, se matriculada nas escolas de obreiros cristãos, seria habilitada para o serviço do Senhor, seja conduzida a um lugar em relação ao qual o Senhor tem por anos orientado Seu povo a dele sair?
Desejamos que nossos jovens sejam educados de um modo tal que exerçam uma influência salvadora em nossas igrejas, trabalhando em favor de maior unidade e mais profunda piedade. Talvez os homens não vejam a necessidade de chamar as famílias a se retirarem de Battle Creek, localizando-se onde possam desempenhar a obra médico-missionária. Entretanto, o Senhor falou. Questionaremos a Sua palavra?
Sem perda de tempo
Existem em nosso meio muitos moços e moças que, se lhes forem apresentados incentivos, naturalmente se sentirão inclinados a realizar cursos de estudos com vários anos de duração, preparando-se para o serviço. Mas valerá isso a pena? O tempo é curto. Obreiros de Cristo são necessários em toda a parte. Deveríamos ter uma centena de sinceros e fiéis obreiros em missões locais e no estrangeiro, onde temos hoje apenas um. Os caminhos e valados ainda estão esperando por serem trabalhados. Incentivos urgentes devem ser oferecidos aos que agora se dispuserem a engajar-se na obra do Mestre.
Os sinais indicadores da proximidade da volta de Cristo estão-se cumprindo rapidamente. O Senhor convida nossos jovens a trabalhar como colportores e evangelistas, a fazer trabalho de casa em casa nos lugares em que ainda não foi ouvida a verdade. Ele Se dirige aos nossos jovens, dizendo: "Não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1 Coríntios 6:19, 20. Os que saem a trabalhar sob a direção de Deus serão maravilhosamente abençoados. Os que nesta vida fizerem seu melhor, habilitar-se-ão para a vida futura e imortal.
O Senhor chama os que se acham vinculados a nossos sanatórios, casas publicadoras e escolas a ensinarem aos nossos jovens a obra evangelística. Nosso tempo e energia não devem ser tão amplamente empregados no estabelecimento de sanatórios, fábricas de alimentos e restaurantes, a ponto de outros ramos da obra serem negligenciados. Moços e moças que deveriam envolver-se no ministério, na obra bíblica e no trabalho de colportagem, não deveriam ser postos em alguma função mecânica.
Os jovens devem ser incentivados a freqüentar nossas escolas de preparo para obreiros cristãos, que deveriam tornar-se mais e mais semelhantes às escolas dos profetas. Essas instituições foram estabelecidas pelo Senhor, e se forem conduzidas de acordo com o Seu propósito, os jovens a elas enviados serão rapidamente preparados para engajar-se nas várias linhas de obra missionária. Alguns serão preparados para ingressar no campo como enfermeiros missionários, outros como colportores, e outros como ministros do evangelho.