Antes da entrada do pecado, nenhuma nuvem repousava sobre a mente de nossos primeiros pais, a obscurecer-lhes a percepção do caráter de Deus. Achavam-se em perfeita conformidade com a vontade de Deus. Como uma cobertura, uma bonita luz, a glória de Deus os circundava. Essa clara e perfeita luz iluminava qualquer coisa da qual se aproximassem.
A natureza era o seu livro de estudos. No Jardim do Éden a existência de Deus era demonstrada e Seus atributos revelados em todos os objetos que circundavam nossos primeiros pais. Tudo aquilo sobre que os seus olhos repousavam, falava-lhes. As invisíveis coisas de Deus, "tanto o Seu eterno poder como a Sua divindade" (Romanos 1:20), eram claramente vistos, fazendo-se compreensíveis pelas coisas criadas.
Resultados do pecado
Embora seja verdade que no princípio Deus podia ser discernido em a natureza, não se deve deduzir que após a queda um conhecimento perfeito de Deus prosseguisse sendo revelado no mundo natural a Adão e sua posteridade. A natureza podia, sim, apresentar suas lições ao homem no estado de inocência deste. Mas a transgressão trouxe ruína sobre a Terra, interpondo-se entre a natureza e o Deus da natureza. Se Adão e Eva jamais houvessem desobedecido a seu Criador, houvessem eles se mantido no caminho da perfeita retidão, teriam podido prosseguir aprendendo de Deus por intermédio de Suas obras. Contudo, ao darem ouvidos ao tentador e pecarem contra Deus, a luz das vestimentas da celestial inocência apartou-se deles. Privados da luz celestial, não mais eram capazes de discernir o caráter de Deus nas obras de Suas mãos.
Através da desobediência do homem também ocorreu uma alteração na própria natureza. Contaminada pela maldição do pecado, é ela hoje capaz de apresentar apenas um imperfeito testemunho em relação a seu Criador. Não mais consegue revelar a perfeição de Seu caráter.
Professor divino
Necessitamos de um Professor divino. Para que o mundo não tivesse que permanecer nas trevas, na eterna noite espiritual, Deus veio ao nosso encontro através de Jesus Cristo. Cristo é "a verdadeira luz, que, vinda ao mundo, ilumina a todo homem". João 1:9. A luz "do conhecimento da glória de Deus" é revelada "na face de Cristo". 2 Coríntios 4:6. A luz de Cristo, iluminando nosso entendimento e brilhando através da natureza, nos permite ler a lição do amor de Deus em Sua obras.
A natureza testifica de Deus
As coisas da natureza, que hoje contemplamos, nos dão apenas uma pálida idéia da beleza e glória do Éden. Ainda assim, muito daquela beleza persiste. A natureza testifica que Alguém infinito em poder, grande em bondade, misericórdia e amor, criou a Terra e a encheu de vida e alegria. Mesmo em seu estado arruinado, todas as coisas revelam a habilidade do grande Artista Mestre. Embora o pecado haja maculado a forma e beleza das coisas naturais, ainda que sobre estas se possa ver os traços da obra do príncipe das potestades do ar, mesmo agora elas nos falam de Deus. Nas sarças, cardos, espinhos e ervas daninhas podemos ler a lei da condenação; da beleza das coisas naturais, entretanto, e de sua maravilhosa adaptação às nossas necessidades e nossa felicidade, logramos aprender que Deus ainda nos ama, e que Sua misericórdia continua manifestando-se no mundo.
"Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes." Salmos 19:1-3.
O fracasso do homem em interpretar a natureza
Separados de Cristo ainda somos incapazes de interpretar corretamente a linguagem da natureza. A mais difícil e humilhante lição que o homem tem a aprender é a sua própria ineficiência quando depende da sabedoria humana e o seguro fracasso de seus esforços em interpretar corretamente a natureza. Por si mesmo não é ele capaz de fazer essa interpretação sem colocá-la acima de Deus. Acha-se ele numa condição semelhante à dos atenienses, os quais, em meio aos altares dedicados à adoração da natureza, possuíam um sobre o qual estava escrito: "Ao Deus Desconhecido." Atos dos Apóstolos 17:23. Certamente Deus lhes era desconhecido. Ele é desconhecido de todos que, sem a orientação do divino Ensinador, assumem o estudo da natureza. Será mais que certo que chegarão a conclusões equivocadas.
Em sua humana sabedoria, o mundo não conhece a Deus. Esses homens sábios reúnem um conhecimento imperfeito de Sua Pessoa a partir das obras por Ele criadas; tal conhecimento, contudo, longe de prover-lhes uma exaltada concepção de Deus, longe de elevar-lhes a mente e o espírito, e de conduzi-los à perfeita conformidade com o Seu querer, tende a torná-los idólatras. Em sua cegueira exaltam a natureza e suas leis acima do Deus da natureza.
Deus tem permitido que um dilúvio de luz seja derramado sobre o mundo através das descobertas das ciências e das artes; entretanto, quando homens supostamente instruídos raciocinam diante desses assuntos a partir de um ponto de vista meramente humano, certamente erram. As mais vigorosas mentes, se não forem guiadas pela Palavra de Deus, tornam-se desnorteadas em suas tentativas de investigar as relações entre a ciência e a revelação. O Criador e Suas obras encontram-se além da compreensão dessas pessoas; visto que não conseguem explicar esses fenômenos pelas leis naturais, afirmam que a história bíblica é indigna de confiança.
Aqueles que questionam a confiabilidade dos registros das Escrituras perdem sua âncora e são deixados a debater-se contra as rochas da incredulidade. Quando constatam serem incapazes de medir o Criador e Suas obras com o seu próprio imperfeito conhecimento da ciência, questionam a existência de Deus e atribuem poder infinito à natureza.
Na verdadeira ciência não pode existir coisa alguma contrária aos ensinamentos da Palavra de Deus, uma vez que ambas são originadas do mesmo Autor. A correta compreensão das duas sempre provará que se encontram em mútua harmonia. A verdade, quer seja a da natureza, quer seja a da revelação, é harmoniosa consigo mesma em todas as suas manifestações. Entretanto, a mente que não é iluminada pelo Espírito de Deus sempre se achará em trevas no tocante a Seu poder. É por essa razão que as idéias humanas relativas à ciência tão freqüentemente contradizem os ensinamentos da Palavra de Deus.
A obra da criação
A obra da criação jamais poderá ser explicada pela ciência. Que ciência pode explicar o mistério da vida?
A teoria de que Deus não criou a matéria ao trazer à existência o mundo não tem fundamento. Na formação de nosso mundo, Deus não dependeu de matéria preexistente. Ao contrário, todas as coisas, materiais e espirituais, surgiram perante o Senhor Jeová ao Seu comando, e foram criadas pelo Seu próprio desígnio. Os céus e todas as suas hostes, a Terra e tudo quanto nela há, são não somente obra de Suas mãos; vieram à existência pelo sopro de Sua boca.
"Pela fé entendemos que os mundos, pela palavra de Deus foram criados; de maneira que aquilo que se vê não foi feito do que é aparente." Hebreus 11:3.
"Pela palavra do Senhor foram feitos os céus; e todo o exército deles... Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu." Salmos 33:6-9.
Leis da natureza
Por apegarem-se às leis da matéria e da natureza, muitos perdem de vista, ou até chegam a negar, a intervenção contínua e direta de Deus. Insistem eles na idéia de que a natureza atua independentemente de Deus, tendo em si mesma a capacidade de atuar. Têm eles em mente uma distinção definida entre o natural e o sobrenatural. O natural é atribuído a causas comuns, sem ligação com o poder de Deus. O poder vital é atribuído à matéria, e a natureza é transformada num deus. Concebe-se que a matéria é colocada em certas relações e passa a agir segundo leis fixas, em que o próprio Deus não pode interferir; que a natureza está dotada de certas propriedades, e sujeita a leis, e age por si mesma para obedecer a essas leis, e realizar a obra que lhe foi originalmente atribuída.
Isso é ciência falsa; nada há na Palavra de Deus que a sustente. Deus não anula Suas leis, mas está continuamente operando por meio delas, usando-as como instrumentos Seus. Elas não atuam por conta própria. Deus está perpetuamente atuando na natureza. Ela é serva Sua, por Ele dirigida como Lhe apraz. Por sua atuação, a natureza testifica da presença inteligente e da intervenção ativa de um Ser que procede em todas as Suas obras em conformidade com Sua vontade. Não é por meio de uma condição original inerente à natureza que ano após ano a Terra produz as suas dádivas, e prossegue em sua marcha em redor do Sol. A mão do infinito poder está perpetuamente em atividade, guiando este planeta. É o poder de Deus, exercido momento a momento, que o mantém em posição na sua rotação.
O Deus do Céu está continuamente em atividade. É pelo Seu poder que a vegetação cresce, que cada folha brota e toda flor desabrocha. Toda gota de chuva ou floco de neve, cada haste de grama, folha, flor e arbusto, testifica de Deus. Essas pequeninas coisas, tão comuns em torno de nós, ensinam a lição de que nada escapa à consideração do infinito Deus, nada é insignificante demais para a Sua atenção.
A estrutura do corpo humano não pode ser totalmente compreendida; apresenta ela mistérios que desconcertam os mais inteligentes. Não é como resultado de um mecanismo que, uma vez posto em movimento, continue a funcionar, que o pulso bate e respiração se segue a respiração. Em Deus vivemos, nos movemos e existimos. Cada respiração, cada batimento do coração constitui prova contínua do poder de um Deus onipresente.
Deus é que faz o Sol surgir no céu. Ele abre as janelas do céu e dá a chuva. Ele faz crescer a vegetação sobre os montes. Ele "dá a neve como lã, esparge a geada como cinza". Salmos 147:16. "Fazendo Ele soar a Sua voz, logo há tumulto de águas no céu. ... Ele faz os relâmpagos para a chuva, e faz sair o vento dos seus tesouros." Jeremias 10:13.
O Senhor está constantemente empenhado em suster e usar, como servas Suas, as coisas que criou. Disse Cristo: "Meu Pai trabalha até agora, e Eu trabalho também." João 5:17.
Mistérios do poder divino
Homens da maior inteligência não podem compreender os mistérios de Jeová revelados na natureza. A divina inspiração formula muitas perguntas a que o sábio mais culto não sabe responder. Essas perguntas não foram feitas para que ele a elas respondesse, mas para chamar-nos a atenção para os profundos mistérios de Deus, e ensinar-nos que limitada é a nossa sabedoria; que no ambiente de nossa vida diária muitas coisas existem além da compreensão das mentes finitas; que o discernimento e propósitos de Deus excedem a pesquisa. Sua sabedoria é inescrutável.
Os céticos recusam-se a crer em Deus, porque com sua mente finita não podem compreender o infinito poder com que Se revela aos homens. Mas Deus deve ser reconhecido mais pelo que Ele não revela acerca de Si, do que pelo que é acessível à nossa compreensão limitada. Tanto na divina revelação, como na natureza, Deus deixou aos homens mistérios para lhes exigir fé. Assim deve ser. Poderemos estar sempre pesquisando, sempre inquirindo, sempre aprendendo, e sempre haverá, além, um infinito.
"Quem mediu com o seu punho as águas, e tomou a medida dos céus aos palmos, e recolheu em uma medida o pó da terra, e pesou os montes e os outeiros em balanças? Quem guiou o Espírito do Senhor? E que conselheiro O ensinou? Eis que as nações são consideradas por Ele como a gota de um balde e como o pó miúdo das balanças; eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as nações são como nada perante Ele; Ele considera-as menos do que nada e como uma coisa vã. "A quem, pois, fareis semelhante a Deus ou com que O comparareis?... Porventura, não sabeis? Porventura, não ouvis? Ou desde o princípio se vos não notificou isso mesmo? Ou não atentastes para os fundamentos da Terra? Ele é o que está assentado sobre o globo da Terra, cujos moradores são para Ele como gafanhotos; Ele é o que estende os céus como cortina e os desenrola como tenda para neles habitar; ... A quem pois me fareis semelhante, para que lhe seja semelhante? diz o Santo. Levantai ao alto os olhos e vede quem criou essas coisas, quem produz por conta o Seu exército, quem a todas chama pelo seu nome; por causa da grandeza das Suas forças e pela fortaleza do Seu poder, nenhuma faltará.
"Por que, pois, dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor, e o meu juízo passa de largo pelo meu Deus? Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da Terra, nem Se cansa, nem Se fatiga? Não há esquadrinhação do Seu entendimento. Dá vigor ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansarão e se fatigarão, e os jovens certamente cairão. Mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças e subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; caminharão e não se fatigarão." Isaías 40:12-31.