Testemunhos para a Igreja, 9

Capítulo 19

Unidade em Jesus Cristo

Aos irmãos ligados à obra de publicações em College View:

Enquanto assistia a uma das sessões de comissão da Associação Geral, realizada em Setembro de 1904, estive sumamente preocupada com a unidade que deve reinar em nossa obra. Não me foi possível estar presente a todas as reuniões, mas durante a noite me foram apresentadas uma cena após outra, e tive a impressão de que deveria transmitir uma mensagem aos nossos irmãos de muitos lugares.

Meu coração dói ao comprovar que, conquanto tenhamos motivos extraordinários para elevar nossa capacidade e aptidões ao mais alto grau de desenvolvimento, conformamo-nos em ser anões na obra de Cristo. Deus quer que todos os Seus obreiros cresçam até à estatura completa de homens e mulheres em Cristo. Onde existe vitalidade há crescimento; e este testifica da presença daquela. As palavras e os atos dão testemunho vivo para o mundo do que o cristianismo realiza em favor dos seguidores de Cristo.

Ao realizarmos a tarefa da qual fomos incumbidos, sem contender com os demais nem criticá-los, nosso trabalho será acompanhado de liberdade, luz e poder tais, que imprimirá feição peculiar e influência poderosa às instituições ou empreendimentos a que estamos ligados.

Lembremo-nos de que quando estamos de mau humor e pensamos ser nosso dever chamar à ordem toda pessoa que de nós se aproxima, jamais estamos em terreno vantajoso. Se cedermos à tentação de criticar os demais, apontar-lhes as faltas e demolir o que fazem, podemos estar certos de que não estamos fazendo a nossa parte de forma nobre e correta.

Este é o tempo em que todo homem que ocupa cargo de responsabilidade, e todo membro da igreja deve colocar cada detalhe de seu trabalho em perfeita consonância com os ensinos da Palavra de Deus. Por meio de vigilância incansável, orações fervorosas, e palavras e atos cristãos, devemos mostrar ao mundo o que Deus quer que Sua igreja seja.

De Sua elevada posição, Cristo, o Rei da glória, a Majestade do Céu viu o estado dos homens. Teve compaixão dos seres humanos em sua fraqueza e pecaminosidade, e veio à Terra para revelar o que Deus é para os homens. Deixando Sua corte real, revestindo Sua divindade com os véus da humanidade, veio pessoalmente ao mundo para desenvolver em nosso favor um caráter perfeito. Não escolheu morada entre os ricos da Terra. Nasceu na pobreza, de pais humildes, e viveu na desprezada aldeia de Nazaré. Logo que atingiu idade suficiente para manejar as ferramentas, contribuiu com a Sua parte para o sustento da família.

Cristo condescendeu em colocar-Se à frente da humanidade para sofrer tentações e suportar as provas que a humanidade tem que sofrer e suportar. Tinha de conhecer o que a humanidade tem que sofrer da parte do inimigo caído, a fim de saber como socorrer os que são tentados.

E Cristo foi feito nosso juiz. O Pai não é o juiz. Tampouco o são os anjos. Aquele que Se revestiu da humanidade e viveu neste mundo vida perfeita, será quem nos há de julgar. Só Ele pode ser nosso Juiz. Lembrar-nos-emos disso, irmãos? Lembrar-se-ão disso os pastores? E os pais e mães, se lembrarão? Cristo assumiu a humanidade para poder ser nosso Juiz. Nenhum de nós foi designado para julgar a outrem. Tudo o que podemos fazer é corrigir-nos. Exorto-lhes, em nome de Cristo, a obedecer à ordem que lhes dá, de nunca assumirem a atitude de juízes. Dia a dia tem soado aos meus ouvidos esta mensagem: "É preciso descer do assento de juiz. Fazê-lo em humildade."

Jamais foi tão necessário como agora que nos neguemos a nós mesmos, carreguemos cada dia a cruz. Até que extremo estamos nós dispostos a dar provas de abnegação?

Vida de graça e paz

No primeiro capítulo da segunda epístola de Pedro, está a promessa de que graça e paz nos serão multiplicadas se foi acrescentada à nossa "fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, e à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade". 2 Pedro 1:5-7. Essas virtudes são tesouros admiráveis. Tornam o homem "mais precioso do que o ouro puro, e mais raro do que o ouro fino de Ofir". Isaías 13:12.

"Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo." 2 Pedro 1:8.

Não nos esforçaremos para fazer o melhor uso possível de nossa habilidade no pouco tempo que ainda nos resta para viver, acrescentando uma graça à outra, e uma capacidade à outra, mostrando que, nos lugares celestiais, temos acesso a uma fonte de poder? Cristo disse: "É-Me dado todo o poder no Céu e na Terra." Mateus 28:18. Para que Lhe é dado o poder? -- Para nós. Ele quer que compreendamos que voltou para o Céu como nosso Irmão mais velho, e que o poder ilimitado que Lhe é dado está à nossa disposição.

Receberão o poder do alto todos quantos em sua vida puserem em prática as instruções dadas à igreja por intermédio do apóstolo Pedro. Devemos viver segundo o plano da adição, empenhando-nos por fazer firme a nossa vocação e eleição. Em tudo quanto fizermos e dissermos devemos representar a Cristo. Devemos viver a Sua vida. Os princípios em que Ele Se inspirava devem dirigir-nos a conduta com as pessoas com quem estamos ligados.

Ao estarmos fortemente firmados em Cristo, possuímos uma força de que ser humano algum nos poderá despojar. E por quê? Porque, ao fugir da corrupção que pela concupiscência há no mundo, somos participantes da natureza divina -- participantes da natureza dAquele que veio à Terra revestido da humanidade, para postar-Se à frente da humanidade, e formar caráter imaculado e irrepreensível.

Por que tantos há entre nós débeis e incapazes? É por olharmos para nós mesmos, estudando o nosso temperamento, perguntando-nos como poderemos nos acomodar, nossa individualidade, nossas peculiaridades, em vez de olhar para Cristo e Seu caráter.

Irmãos que poderiam trabalhar juntos em boa harmonia, se aprendessem de Cristo, esquecendo-se de que são americanos ou europeus, alemães ou franceses, suecos, dinamarqueses ou noruegueses, parece sentirem que ao se unirem com os de outras nacionalidades perderão alguma coisa do que lhes caracteriza a região ou nação, substituindo-a por outra.

Irmãos, vamos deixar disso! Não temos o direito de focalizar em nós mesmos a atenção, preferências e caprichos. Não devemos tratar de manter uma identidade peculiar, uma personalidade, uma individualidade que nos mantenha separados dos nossos colaboradores. Temos que manter um caráter, mas esse caráter é o de Cristo. Se tivermos o caráter de Cristo, poderemos trabalhar juntos na obra de Deus. O Cristo que em nós está encontrará o Cristo que está em nossos irmãos, e o Espírito Santo consagrará essa união de sentimentos e procedimentos que testifica perante o mundo que somos filhos de Deus. Que o Senhor nos ajude a morrer para o eu, e nascer de novo, a fim de Cristo poder viver em nós como um princípio vivo e ativo, capaz de nos manter santos.

Trabalhemos com ardor em prol da união. Oremos e trabalhemos para alcançá-la. Ela nos produzirá saúde espiritual, elevação de pensamento, nobreza de caráter, mentalidade celestial que nos capacitará para vencer o egoísmo e as ruins suspeitas, e a ser mais do que vencedores por Aquele que nos amou e a Si mesmo Se deu por nós. Crucifiquemos o eu; consideremos os outros superiores a nós; e assim realizaremos a unidade em Cristo. Perante o Universo celestial, bem como a igreja e o mundo, daremos prova indiscutível de que somos filhos e filhas de Deus. Deus será glorificado através de nosso exemplo.

O milagre que o mundo necessita ver é o que une o coração dos filhos de Deus, uns aos outros, por um amor cristão. Precisa ver os do povo do Senhor assentados juntos no lugares celestiais em Cristo. Não quereremos dar através de nossa vida uma prova do que a verdade divina pode fazer em favor dos que O amam e servem? Deus sabe o que poderemos chegar a ser. Sabe o que a divina graça pode fazer em nosso favor, se nos tornarmos participantes da natureza divina.