Testemunhos para a Igreja, 9

Capítulo 24

A questão da cor da pele

Tenho algumas coisas a dizer a respeito das pessoas negras dos estados sulinos da América do Norte, e a relação que com elas deveríamos manter. Por tanto tempo estiveram sob a maldição da escravatura, que agora torna-se difícil saber como devem ser tratadas.

Quando os obreiros de Deus permitem que o Seu Espírito atue em sua mente, muito se consegue em favor da salvação dos pecadores. O Senhor é nosso Ajudador. Ele nos guiará em todos os assuntos, se nEle confiarmos. Uma coisa é certa: necessitamos ter fé em Deus -- fé em que Ele arranjará as coisas de tal forma que conseguiremos atuar com sucesso. Jamais alguém confiou em Deus em vão. Ele nunca desaponta os que nEle depositam sua confiança.

Devemos evitar entrar em controvérsia acerca da questão da cor da pele. Se esse assunto for muito agitado, surgirão dificuldades, as quais consumirão muito de nosso precioso tempo. Não podemos estabelecer uma linha definida ao lidarmos com essa questão. Em diferentes lugares, e sob diferentes circunstâncias, o assunto terá de ser manejado de modo distinto. No Sul, onde o preconceito racial é tão forte, não conseguiríamos realizar coisa alguma em termos de apresentação da verdade, se fôssemos lidar com a questão do racismo do mesmo modo como podemos lidar em alguns lugares do Norte. Os obreiros brancos do Sul precisam movimentar-se de uma forma que os capacite a obter acesso às pessoas de cor branca.

É plano de Satanás levar as mentes a revolver a questão étnica. Se suas sugestões forem atendidas, existirá diversidade de opinião e grande confusão. Ninguém é capaz de definir com clareza a posição adequada das pessoas de cor negra. Os homens podem desenvolver teorias, mas posso assegurar-lhes que de nada nos aproveitará seguir teorias humanas. Tanto quanto possível, a questão racial não deve ser provocada.

As cidades do Sul precisam ser trabalhadas, e para essa obra, sem demora, devem ser assegurados os melhores talentos. Que obreiros de pele branca trabalhem pelas pessoas da mesma etnia, proclamando a mensagem da verdade presente em sua simplicidade. Encontrarão portas através das quais serão capazes de atingir as classes mais altas. Cada oportunidade para alcançar essas classes deve ser aproveitada.

Já os obreiros negros devem efetuar tudo que estiver a seu alcance, trabalhando em favor dos próprios negros. Agradeço a Deus porque entre os crentes negros existem homens de talento, capazes de trabalhar eficientemente para apresentar a verdade em linhas bem claras aos seus companheiros. Existem muitos negros de precioso talento os quais se converterão à verdade, se nossos ministros negros forem sábios em divisar caminhos para o preparo de professores para as escolas, assim como outros obreiros para o campo.

As pessoas de pele negra não devem insistir em serem colocadas em posição de igualdade com os de pele branca. O relacionamento entre as duas etnias tem sido um assunto de difícil tratamento. Temo que prossiga sendo um problema causador de dificuldades. Tanto quanto possível, deve ser evitado tudo aquilo que suscite o preconceito das pessoas brancas. Existe o perigo de se fechar a porta, impedindo assim que os obreiros brancos prossigam o seu trabalho em alguns lugares do sul.

Sei que se tentarmos acompanhar as idéias e preferências de alguns dos negros, veremos nosso caminho completamente bloqueado. A obra de proclamação da verdade para este tempo não deve ser atrapalhada por qualquer esforço para nos ajustarmos aos ideais dos negros. Se tentarmos fazer isso, encontraremos barreiras semelhantes a montanhas erguendo-se para impedir a obra que Deus deseja que empreendamos. Se nos movermos com calma e cuidado, agindo da forma como Deus nos indicou, tanto os brancos quanto os negros serão beneficiados por nossa atividade.

Ainda não chegou o tempo de trabalharmos como se não existisse preconceito. Cristo disse: "Portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas." Mateus 10:16. Se perceberem que, ao fazer certas coisas que lhes parecem perfeitamente corretas, vão atrapalhar o avanço da obra de Deus, evitem praticar tais coisas. Nada façam que possa vir a fechar as mentes à recepção da verdade. Existe um mundo a salvar, e nada ganharemos se cortarmos nosso vínculo com aqueles a quem estamos procurando ajudar. Todas as coisas podem ser lícitas, mas nem todas convêm.

O melhor caminho é o da sabedoria. Como colaboradores de Deus, temos de atuar da forma que permita realizarmos o melhor para Ele. Não devemos ir aos extremos. Necessitamos da sabedoria do alto; temos um difícil problema a resolver. Se empreendermos movimentos bruscos agora, grande dano resultará daí. O assunto deve ser apresentado de tal forma que os negros verdadeiramente convertidos se apeguem à verdade em favor de Cristo, recusando-se a renunciar a algum claro princípio da doutrina bíblica porque possam pensar que o melhor de todos os caminhos não seja dedicar-se aos negros.

Temos de sentar-nos como aprendizes aos pés de Cristo a fim de que Ele nos ensine a vontade de Deus, e para que saibamos como trabalhar em favor das pessoas brancas e das negras, no campo sulino. Devemos proceder do modo como o Espírito do Senhor nos ditar, agitando o menos possível a questão racial. Temos de aplicar todas as nossas energias à apresentação da mensagem final do evangelho a todas as pessoas no sul. Se formos conduzidos e controlados pelo Espírito de Deus perceberemos que essa questão ajustar-se-á por si mesma na mente de nosso povo.

Busquemos individualmente ao Senhor. Que se aproximem efetivamente de Deus aqueles cuja experiência religiosa passada alcançou apenas a superfície. Arrependam, arrependam-se e se convertam, para que sejam apagados os seus pecados.

Quando estivermos preparados para tocar a obra com toda a sinceridade, estaremos melhor capacitados do que agora para lidar com as questões envolvidas nessa atividade. Que cada crente faça o seu melhor na preparação do caminho para a obra missionária evangélica que espera por ser realizada. Mas que ninguém entre em controvérsia. É objetivo de Satanás que os cristãos se envolvam em debates uns com os outros. Ele sabe que se não vigiarem, o dia do Senhor os apanhará como um ladrão de noite. Não temos tempo agora para dar lugar ao espírito do inimigo nem para acariciar o preconceito que confunde o discernimento e nos separa de Cristo.

Serão necessários dinheiro e genuínos e perseverantes esforços para realizar o que é necessário entre as pessoas negras. Cada homem precisa agora erguer-se em seu lugar, confessando e abandonando seus pecados, e atuando em harmonia com os irmãos. Os obreiros de Deus precisam possuir um só coração e mente, orando pelo derramamento do Espírito e crendo que Deus cumprirá Sua promessa.

Uma lição das atividades de Cristo

Certa ocasião, quando Cristo Se encontrava em meio à Sua obra de curar e pregar, alguém dentre a multidão reunida em torno dEle Lhe disse: "Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança." Lucas 12:13.

Esse homem havia testemunhado as maravilhosas obras de Cristo. Ficara surpreso com a clareza de Sua compreensão, Seu superior julgamento e a lisura com que discernia todos os casos trazidos à Sua presença. Ouvira os insistentes apelos de Cristo e Sua solene denúncia dos escribas e fariseus. Se palavras com tamanha autoridade pudessem ser ditas a seu irmão, ele não se atreveria a recusar conceder parte da herança ao homem prejudicado. Assim, solicitou que Cristo exercesse a Sua influência. "Dize a meu irmão", solicitou ele, "que reparta comigo a herança." Lucas 12:13.

O Espírito Santo estava pleiteando com esse homem a fim de que se tornasse herdeiro de uma herança incorruptível e incontaminada, e que jamais desaparecerá. Ele havia visto as evidências do poder de Cristo. Agora era a sua oportunidade de falar ao grande Mestre, expressando os desejos mais íntimos de seu ser. Mas, tal qual um dos personagens da alegoria de Bunyan, seus olhos achavam-se fixos na Terra. Não percebia a coroa acima de sua cabeça. Tal como Simão, o mago, avaliava o dom de Deus como um meio de obter ganho terrestre.

A missão do Salvador sobre a Terra aproximava-se rapidamente do fim. Restavam apenas poucos meses para que completasse o que viera estabelecer no reino da graça. Ainda assim a cobiça humana quase O desviava de Sua obra a fim de assumir a disputa por um pedaço de terra. Cristo, contudo, não podia desviar-Se de Sua missão. Assim, Sua resposta foi: "Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?" Lucas 12:14.

Cristo deixou bem claro ao homem que essa não era a Sua obra. Lutava para salvar pessoas. Não haveria de Se desviar dessa missão a fim de assumir deveres de um magistrado civil.

Quão freqüentemente obriga-se a igreja a assumir atividades que jamais deveriam ser admitidas na obra do ministério evangélico!

Por mais de uma vez Cristo foi solicitado a decidir questões políticas e jurídicas; mas recusava-Se a interferir em assuntos temporais. Sabia que no mundo político existiam procedimentos iníquos e grande tirania. Sua única resposta para isso era a proclamação da verdade bíblica. Às grandes multidões obstruíam Seus passos, apresentou Ele os puros e santos princípios da lei de Deus, falando das bênçãos encontradas na observância desses princípios. Com a autoridade provinda do alto, insistiu Ele na importância da justiça e da misericórdia. Mas não Se permitiu o envolvimento em disputas pessoais.

Cristo ocupava no mundo o lugar de Cabeça do grande reino espiritual para cujo estabelecimento aqui viera -- o reino da justiça. Seus ensinos tornaram claros os princípios enobrecedores e santificadores que regem Seu reino. Mostrou que a justiça, misericórdia e amor são as forças dominantes no reino de Jeová.

Tempo de preparo

Estamos vivendo no grande dia antitípico da expiação. Temos de buscar individualmente a Deus. Essa é uma obra pessoal. Aproximemo-nos de Deus, não permitindo que coisa alguma se misture com nossos esforços, e que venha a representar erroneamente a verdade para este tempo. Que todos confessem, não o pecado de seu irmão, mas o seu próprio. Que humilhem o coração perante Deus, tornando-se tão repletos com o Espírito Santo, que sua vida revele haverem nascido de novo. Lemos: "Mas a todos quantos O receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que crêem no Seu nome." João 1:12.

O evangelho de Cristo deve ser vivido e praticado na vida diária. Os servos de Deus devem ser purificados de toda indiferença, de todo egoísmo. Simplicidade, mansidão e humildade, são de grande valor na obra de Deus. Procuremos unir os obreiros através da confiança e amor. Se não conseguirmos fazer isso, sejamos nós mesmos corretos e deixemos o resto com Deus. Trabalhemos com fé e oração. Escolhamos jovens cristãos e os preparemos para serem, não obreiros de coração semelhante ao ferro, mas obreiros que estejam dispostos a harmonizar-se.

Oro para que o Senhor mude o coração daqueles que, a menos que recebam mais graça, entrarão em tentação. Oro para que Ele abrande e subjugue cada coração. Precisamos viver em íntima relação com Deus, para que possamos amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou. É por meio disso que o mundo deve saber que somos Seus discípulos. Que não exista exaltação do eu. Se os obreiros humilharem o coração diante de Deus, a bênção virá. Receberão a cada momento idéias novas, promissoras, e haverá um maravilhoso reavivamento da obra evangélica médico-missionária.

A grande obra diante de todos nós, os cristãos, é estender o reino de Cristo tão rapidamente quanto possível, de acordo com a divina comissão. O evangelho deve avançar de conquista em conquista, de vitória em vitória. A grandeza do reino sob todo o Céu deve ser dada ao povo dos santos do Altíssimo, e eles assumirão o reino e o possuirão para todo o sempre.

A batalha diante de nós

Os servos de Deus devem vestir todas as peças da armadura de Cristo. Não estamos lutando simplesmente com inimigos humanos. Deus convoca todo cristão a empenhar-se na guerra e a lutar sob a Sua liderança, dependendo da graça e ajuda do Céu a fim de alcançar sucesso.

Devemos avançar na força do Todo-poderoso. Jamais poderemos ceder aos ataques de Satanás. Por que não deveríamos nós, como guerreiros cristãos, estar em pé contra os principados e potestades, contra os dirigentes das trevas deste mundo? Deus nos convoca a avançar, utilizando os talentos de que nos dotou. Satanás colocará a tentação diante de nós. Procurará vencer-nos mediante estratagemas. Mas, na força de Deus, devemos permanecer firmes ao princípio como uma rocha.

Nessa guerra não existe trégua. Os agentes satânicos jamais concedem pausa em sua obra de destruição. Os que se encontram no serviço de Cristo precisam vigiar todos os postos. Nosso objetivo é salvar da ruína os pecadores. Essa é uma obra de infinita grandeza e o homem não pode ter a esperança de ser nela bem-sucedido, a menos que se una com o divino Obreiro.

Desde a eternidade é Cristo o Redentor do homem. Desde a queda têm vindo as seguintes palavras aos que se unem a Ele na realização de Sua grande obra: "Não vos canseis de fazer o bem." 2 Tessalonicenses 3:13. "Sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor." 1 Coríntios 15:58.

O cristão é estimulado a demonstrar paciente perseverança ao levar avante a obra do ministério evangélico, em conexão com a obra médico-missionária. À medida que ele adquire experiência na religião genuína, obtém um conhecimento espiritual que edifica o caráter.

A vida do genuíno cristão é de contínuo serviço. "Nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. Cada dia traz àquele que se encontra no serviço de Deus, deveres proporcionais à sua capacidade. Sua utilidade aumenta quando, sob a direção do supremo Poder, desempenha esses deveres. O cumprimento de um dever nos prepara melhor para assumirmos outro. Aqueles que possuem clara compreensão do que deve ser feito, colocar-se-ão sob a direta luz da Palavra de Deus, em união com as Suas demais forças divinas. Cada dia, revestidos de toda a armadura, avançarão na batalha. Mediante oração, vigilância e perseverança, agirão, determinados a não permitir que o encerramento de suas atividades os encontre despreparados, não tendo feito tudo a seu alcance para a salvação dos perdidos.

Se os cristãos agissem de comum acordo, avançando como um só homem, sob a direção de um único Poder, para a realização de um só objetivo, abalariam o mundo.

Os princípios que nos devem nortear como obreiros na causa de Deus foram expostos pelo apóstolo Paulo. Ele disse: "Porque nós somos cooperadores de Deus." 1 Coríntios 3:9. "E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens." Colossences 3:23. Pedro exorta os crentes: "Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o poder para todo o sempre." 1 Pedro 4:10, 11.

Há grandes leis que governam o mundo da natureza, e as coisas espirituais são controladas por princípios igualmente definidos. Os meios para determinado fim têm de ser empregados, se é que se quer de fato alcançar os resultados desejados. Deus designou a todo homem a sua obra, de acordo com sua habilidade. É pela educação e a prática que as pessoas devem ser habilitadas a enfrentar qualquer emergência que possa surgir, e é necessário um planejamento sábio para colocar cada um em sua própria esfera para que possa obter uma experiência que o faça apto a assumir responsabilidades.

Deus quer que nos ajudemos uns aos outros por uma manifestação de simpatia e abnegado amor. Há os que herdaram temperamento e disposição peculiares. Podem ser de trato difícil, mas somos nós irrepreensíveis? Não os devemos desanimar. Seus erros não se devem tornar propriedade comum. Cristo Se compadece dos que erram em seu raciocínio e os ajuda. Ele sofreu a morte por todos, e por isso tem tocante e profundo interesse em cada pessoa.

Um homem pode estar procurando servir a Deus; entretanto, assaltam-no tentações provindas do interior e do exterior. Satanás e seus anjos insistem e pressionam para que transgrida. Talvez caia ele como presa de suas tentações. De que modo o tratam seus irmãos? Falam-lhe de modo áspero, com palavras cortantes, afastando-o ainda mais do Salvador? Que triste visão a ser contemplada por Cristo e Seus anjos!

Lembremo-nos de que estamos em luta e fracassamos; falhamos no falar e no agir para representar Cristo; caindo e levantando novamente, entre o desespero e a esperança. Não nos permitamos lidar de modo desamorável com aqueles que, à semelhança de nós mesmos, acham-se sujeitos à tentação e também são objetos do infalível amor de Cristo.

Deus lida com os homens como seres responsáveis. Por intermédio de Seu Espírito, atuará na mente que colocou no ser humano, se ele tão-somente Lhe der uma oportunidade de agir, reconhecendo-O em Suas atuações. Deus deseja que cada um use sua própria mente e consciência. Não quer que um homem se torne sombra de outro, refletindo apenas os sentimentos alheios.